O papa Francisco deu uma longa entrevista na noite deste domingo (6) ao programa italiano "Che Tempo Che Fa", da RAI, e foi questionado sobre um dos temas mais caros durante seu Pontificado: a questão dos migrantes.
"Aquilo que se faz com os migrantes é criminoso. Para chegar ao mar, eles sofrem muito. Há imagens, há campos de concentração feitos por traficantes, o que sofrem nas mãos dos traficantes aqueles que querem fugir. Depois, eles sofrem quando arriscam a travessia no Mediterrâneo, e depois, algumas vezes, eles são rejeitados. Alguns que têm responsabilidades locais dizem 'aqui eles não entram', e esses navios devem circular para achar um porto. 'Não, que morram no mar'. Isso é o que acontece hoje", disse Francisco ao apresentador Fabio Fazio.
Ainda no tema, o líder católico afirmou que "é uma verdade que cada país deve dizer quantos migrantes pode acolher, isso é um problema de política interna e deve ser bem pensado".
"Mas, para os outros, há a União Europeia e isso se faz com equilíbrio e comunhão. Agora, há uma injustiça: eles vem para Espanha e Itália, os países mais próximos, não têm outros que recebem", pontuou.
Criticando as "ideologias que crescem" dentro de alguns países contra os estrangeiros, Jorge Mario Bergoglio afirmou que os países europeus precisam "integrar" os migrantes de maneira "inteligente", já que muitas nações do bloco enfrentam uma queda demográfica e falta de mão de obra e "um migrante integrado ajuda esse país".
"E o fato do Mediterrâneo ser o maior cemitério do mundo deve também nos fazer pensar", acrescentou.
Temas pessoais
Durante a longa entrevista, Francisco também respondeu sobre temas relevantes em sua gestão à frente da Igreja Católica, como a proteção à natureza, e também sobre assuntos mais pessoais, como seu gosto musical.
Sobre o primeiro, o Papa destacou que é preciso "cuidar da Mãe Terra".
"Uma vez, os pescadores de San Benedetto del Tronto acharam uma tonelada de plástico no mar e limparam tudo daquele lixo. Jogar plástico no mar é criminoso, mata a terra. Precisamos proteger a biodiversidade e tomar cuidado das criaturas feitas pelo Criador", afirmou.
Bergoglio ainda foi questionado sobre que tipo de música é sua favorita e disse que gosta "muito de clássicos - e também de tango". Perguntado se dançava no passado, o líder católico riu e disse que "um portenho que não dança não é portenho".
Recentemente, o Pontífice foi flagrado saindo de uma loja de discos de Roma, mas ressaltou que foi ao local para abençoar uma reforma, já que é amigo de longa data dos donos.
O líder ainda foi questionado sobre as relações entre pais e filhos e pontuou que é preciso "ter proximidade com os filhos".
"Às vezes, quando casais jovens se confessam ou falo com eles, eu pergunto sempre se eles brincam com seus filhos. Às vezes, ouço respostas dolorosas: 'padre, quando saio [de casa] eles dormem e quando eu volto também'. Essa é a sociedade cruel que afasta pais dos filhos. Também quando eles crescem, é preciso estar próximos, é preciso conversar com os filhos. Os pais que não são próximos não agem bem. Eles devem ser cúmplices dos filhos, aquela cumplicidade que permite crescer pais e filhos juntos", pontuou.
Francisco ainda afirmou que "todos devem ser perdoados" por suas falhas porque esse "é um direito humanos".
Sobre a Igreja Católica, o Papa voltou a destacar que "hoje, o maior mal é a mundanidade espiritual, uma igreja mundana". "Essa mundanidade espiritual faz crescer o clericalismo, uma coisa feia, uma perversão da Igreja, que leva a posições ideologicamente rígidas. Assim, a ideologia tira o lugar do Evangelho", disse ainda.
Questionado sobre santidade, o Papa afirmou que "não é tão santo" e que, como qualquer outra pessoa, "tenho a necessidade de relações humanas e por isso fui viver na [residência de] Santa Marta". "Eu preciso de amigos, tenho poucos, mas verdadeiros", acrescentou.
"Tenho amigos que me ajudam, conhecem minha vida. Eu tenho as minhas anormalidades, mas sou um homem comum, que tem amigos, que gosta de estar com amigos, tenho a necessidade deles. As amizades me dão força, tenho a necessidade deles", pontuou.
O Papa ainda falou sobre seus sonhos quando era jovem.
"Quando criança queria ser açougueiro pelo dinheiro, eles têm muito dinheiro. Gostava também de química, a medicina e quis entrar na faculdade de Medicina. Mas, aos 19 anos, chegou a vocação e eu fui para um seminário", disse entre risadas.
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