A França vai abrir o porto de Marselha para o navio Ocean Viking, operado pela ONG humanitária SOS Méditerranée e que aguardava havia duas semanas a designação pela Itália de um local seguro para atracar.
A informação foi adiantada à ANSA por uma fonte do Ministério do Interior francês, em meio à queda de braço entre o governo italiano e as organizações que fazem operações de socorro no Mar Mediterrâneo.
A expectativa é de que o Ocean Viking, que transporta 234 migrantes, chegue em Marselha na quinta-feira (10), e a mesma fonte disse que todas as pessoas a bordo poderão desembarcar, "Não há restrições, todos têm direito de apresentar pedidos de refúgio", garantiu. O presidente Emmanuel Macron chegou a conversar por telefone com a premiê da Itália, Giorgia Meloni, que não recuou de sua posição.
A SOS Méditerranée, que tem sede em Marselha, divulgou um comunicado em que afirma que a situação no navio é "crítica", com os sobreviventes perdendo as "últimas esperanças e a incrível resiliência que demonstraram até agora".
"Diante do silêncio da Itália, o Ocean Viking foi obrigado a pedir um porto seguro à França. Essa solução extrema é o resultado de um fracasso gravíssimo e dramático de toda a União Europeia", declarou a ONG.
O Ocean Viking é apenas um dos quatro navios humanitários que protagonizaram uma queda de braço com a Itália nos últimos dias, mas o único que não recebeu autorização sequer para ancorar nos portos do país.
Os outros três são o Geo Barents, de Médicos Sem Fronteiras, o Humanity 1, da SOS Humanity, e o Rise Above, da Mission Lifeline. Todos eles resgataram centenas de migrantes forçados no Mediterrâneo Central no fim de outubro, em meio à crise que transformou o berço da civilização ocidental em um cemitério.
O Geo Barents levava 572 pessoas, sendo que 211 continuam no navio, e o Humanity 1 transportava 179 indivíduos, dos quais 34 seguem a bordo e iniciaram nesta terça (8) uma greve de fome para protestar contra o bloqueio imposto pela Itália.
Já o Rise Above é o único que pôde desembarcar todos os náufragos - um total de 90 - por ter feito o resgate na área de busca e socorro sob jurisdição italiana.
O governo Meloni defende que o país de bandeira dos navios humanitários - Alemanha e Noruega - se encarreguem dos migrantes e refugiados, mas o direito internacional determina que pessoas socorridas no mar sejam levadas ao porto seguro mais próximo.
Como as ONGs se recusam a devolver os deslocados internacionais para a Líbia, onde há graves denúncias de violações de direitos humanos, os portos seguros mais próximos no Mediterrâneo Central seriam na Itália ou em Malta.
A maior parte desses migrantes costuma seguir viagem rumo a países mais ao norte da Europa, como a Alemanha e a própria França, que até agosto contabilizavam 238,7 mil e 134,4 mil solicitantes de refúgio, respectivamente, de acordo com o gabinete de estatísticas da UE (Eurostat), contra 61,8 mil da Itália.
Meloni
A primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, elogiou a França por receber o navio com migrantes Ocean Viking, da ONG SOS Mediterranee, que ficou duas semanas esperando autorização do governo de Roma para atracar no país.
"Agradecimento pela decisão da França de compartilhar a responsabilidade da emergência migratória, que até hoje ficou nas costas da Itália e de poucos outros países. É importante seguir nessa linha com o Estados mais expostos, assim como encontrar uma solução compartilhada e comum para parar o tráfico de seres humanos e gerir de maneira legal e equilibrada um assunto que tem dimensões históricas. A emergência é um tema europeu e deve ser enfrentado assim", afirmou. (ANSA)
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