Os 89 migrantes a bordo do navio Rise Above, da ONG alemã Mission Lifeline, desembarcaram nesta terça-feira (8) no porto de Reggio Calabria, em meio à tensão entre o governo de Giorgia Meloni e as entidades humanitárias que operam no Mediterrâneo.
O navio havia resgatado 90 náufragos no fim de outubro, porém um deles já tinha sido evacuado por motivos médicos. Após o desembarque, os deslocados internacionais foram levados para um centro de acolhimento montado no ginásio de uma escola, onde aguardarão sua redistribuição pelo território italiano.
O grupo reúne cerca de 40 menores de idade, incluindo alguns bebês, e é formado por pessoas provenientes de países como Burkina Fasso, Camarões, Costa do Marfim, Egito, Guiné, Libéria e Tunísia, na África.
Diferentemente dos navios Geo Barents, de Médicos Sem Fronteiras, e Humanity 1, da SOS Humanity, a Itália designou um porto seguro para o Rise Above, o que permitiu a descida de todos os migrantes.
Linha dura
Outros três navios continuam em águas italianas e aguardam há duas semanas a designação de um porto seguro para atracar. Além do Geo Barents, com 214 migrantes a bordo, e do Humanity 1, com 34, o Ocean Viking, da SOS Méditerranée, transporta 234 náufragos.
Nos últimos dias, a Itália permitiu que os navios de MSF e SOS Humanity ancorassem no porto de Catânia para o desembarque emergencial de menores de idade, mulheres e suas famílias, o que beneficiou mais de 500 pessoas.
Logo em seguida, no entanto, ordenou que as duas embarcações zarpassem com os migrantes remanescentes, sob risco de pagamento de multa de 50 mil euros (R$ 258 mil). As duas tripulações recusaram a ordem e seguem ancoradas em Catânia.
Já o porta-voz da SOS Méditerranée, Francesco Creazzo, afirmou que a situação a bordo do Ocean Viking é "desesperadora". "Entre as 234 pessoas estão 55 menores de idade, sendo 43 desacompanhados e o mais novo com três anos de idade. O navio espera no mar há 20 dias, fizemos mais de 30 pedidos por um porto seguro", disse.
Segundo ele, 17 indivíduos precisam de atendimento médico, e três necessitam de internação, incluindo um migrante com pneumonia. A Igreja Católica também cobrou o governo italiano.
"Não podemos permitir que mais uma vez nossos irmãos migrantes, que fogem da fome e da guerra, sejam tratados como itens descartáveis, como cargas residuais, e não como pessoas", afirmou o vice-presidente da Conferência Episcopal Italiana (CEI), Francesco Savino.
Já a secretária de Relações Europeias da França, Laurence Boone, pediu que a Itália "aplique as regras do direito internacional" e garantiu apoio para o acolhimento dos migrantes.
Normas internacionais de navegação determinam que pessoas resgatadas em alto mar sejam levadas ao porto seguro mais próximo, mas Roma quer que os países de origem dos navios humanitários - Alemanha e Noruega - se responsabilizem pelos migrantes.
A linha dura contra as ONGs é capitaneada pelo ministro da Infraestrutura Matteo Salvini, responsável pela gestão dos portos italianos.
De acordo com o Ministério do Interior, 88,1 mil deslocados internacionais já desembarcaram na Itália em 2022, crescimento de 58% em relação ao mesmo período do ano passado. Os principais países de origem são Egito (18,2 mil), Tunísia (17 mil), Bangladesh (12,5 mil), Síria (6,5 mil) e Afeganistão (6,3 mil). (ANSA)
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