Os candidatos à Presidência da Argentina, Sergio Massa (peronismo de centro-esquerda) e Javier Milei (ultraliberal), têm posições profundamente contrárias em temas-chave da política internacional, como a crise no Oriente Médio, o acordo entre União Europeia e Mercosul, a adesão do país ao Brics e as ligações com a China.
E na reta final da campanha para o segundo turno de 19 de novembro, essas diferenças tornam-se cada vez mais acentuadas, embora o eleitorado esteja de olho na crise econômica, com o dólar fora de controle e uma inflação anual perto dos 140%, e nos medos suscitados pelos dois candidatos.
"Ao contrário de Milei, Massa propõe uma política externa pragmática, que prioriza o interesse nacional. Ou seja, focada em promover exportações com valor agregado, atraindo investimentos que modernizem o aparato produtivo, apoiando as pequenas e médias empresas e gerando trabalho de qualidade para os argentinos", disse à ANSA o embaixador do país na Suíça, Gustavo Martínez Pandiani, referência em política externa para o atual ministro da Economia.
Cotado como possível ministro das Relações Exteriores de Massa, o diplomata também defende o acordo UE-Mercosul, mas ressaltou que América Latina e Europa precisam ter uma "relação de iguais". "Esse é o princípio que queremos aplicar no acordo, que tem que ser vantajoso para ambas as partes", acrescentou.
Já Diana Mondino, possível chanceler em um eventual governo Milei, disse que é preciso "avançar urgentemente" nesse tema, mas a campanha do ultraliberal põe as relações com Estados Unidos e Israel como "prioridades no cenário internacional", deixando a Europa de lado.
Além disso, Mondino pregou uma relação mais "aberta e flexível" com o Brasil, "um dos principais parceiros comerciais da Argentina, e o Mercosul, bloco que ela julgou como "anacrônico" - durante a campanha, Milei já fez várias críticas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem acusa de ser "comunista" e de ingerência pró-Massa nas eleições.
"Acreditar que Lula não pode ser nosso parceiro porque é 'meio comunista' não é apenas falta de seriedade na análise, mas um erro estratégico muito importante. Romper com o Brasil significaria matar 2,5 mil pequenas e médias empresas e mais de 2 milhões de empregos baseados nas exportações para esse país", rebateu Pandiani.
Os dois também expressaram divergências em relação à China: Mondino defendeu o fim de "acordos secretos" com Pequim, enquanto Pandiani destacou que romper com o gigante asiático teria um "impacto muito negativo nas reservas, no nível de emprego e nos investimentos, gerando a suspensão de projetos-chave para o desenvolvimento de setores como minerais críticos".
O mesmo acontece em relação à adesão da Argentina ao Brics. "Ao contrário do que propõe Milei, vemos a entrada no Brics como uma grande oportunidade porque se trata de um bloco do qual fazem parte três das maiores economias do mundo [China, Índia e Brasil]", explicou Pandiani.
"Para ter uma magnitude do que o Brics representa para o nosso país, 13 províncias têm o Brasil como principal destino de exportação, nove, a China, e duas, a Índia", frisou.
Mondino, no entanto, não vê a adesão como algo "viável" ou que vá "contribuir para a economia do país".
A respeito dos ataques terroristas do Hamas em Israel, onde 21 argentinos foram sequestrados pelo grupo palestino, Massa já questionou a posição do atual chanceler, Santiago Cafiero, de seu próprio partido, de se opor aos bombardeios em Gaza.
Por sua vez, Mondino disse que "a Argentina não pode admitir o terrorismo do Hamas nem por mais um minuto". "Deveria incluí-lo na lista de grupos terroristas, mas Massa não o fez até agora", acrescentou.
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