"Chega de mensagens contraditórias": Foi com essas palavras que o grupo de ativistas ambientais "Ultima Generazione" ("Última Geração", em português) rebateu o papa Francisco por ter criticado os "extremismos" em protestos em defesa do clima.
Em entrevista a jornalistas durante viagem de regresso da Mongólia no início de setembro, o pontífice foi questionado se sua exortação apostólica sobre o clima, lançada no último dia 4 de outubro, poderia expressar apoio a grupos de ativistas que optam por formas radicais de protesto.
Na ocasião, Jorge Bergoglio disse que "rejeita esses extremismos" e criticou "ideologias e pressões políticas" em atos pelo clima. A declaração foi dada em meio a uma onda de pichações em museus e monumentos na Itália para cobrar uma postura mais firme contra o aquecimento global.
Em junho passado, o Tribunal do Vaticano chegou a condenar dois ativistas a nove meses de prisão, com pena suspensa, por terem colado suas mãos a uma estátua.
Em comunicado enviado à ANSA, a ativista Ester, do Última Geração, movimento por trás desses protestos, enfatizou que "é através da desobediência civil que o grupo pede aos políticos que implementem ações concretas para enfrentar a crise climática".
A representante do movimento italiano expressou descrença nas palavras do Papa e destacou a contradição entre suas "últimas declarações precipitadas" e posições assumidas anteriormente.
A nota recordou ainda o apelo feito por Francisco na Jornada Mundial da Juventude (JMJ) em Lisboa, em agosto, no qual ele reforçou que o mundo caminha "para um colapso climático" e pediu para "os jovens deixarem de lado a rotina habitual e a zona de conforto".
"Li com amargura as palavras do Papa, que mesmo depois da Laudato Si' [encíclica ambientalista do pontífice] apontou o dedo para a inércia dos governos em relação ao colapso climático. O que devemos fazer com a preocupação com nosso futuro, senão canalizá-la para ações concretas?", questionou Ester.
De acordo com ela, as cúpulas sobre o clima só produziram promessas, mas as emissões continuaram a aumentar. "Se não protestarmos com atos de desobediência civil, só nos resta a jardinagem", ironizou.
No início de outubro, Bergoglio publicou uma nova exortação apostólica sobre meio ambiente, batizada como "Laudate Deum" ("Louve a Deus") e na qual acusa as grandes potências econômicas de não se preocuparem com a crise climática.
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