(ANSA) - O papa Francisco publicou nesta quarta-feira (4) uma exortação apostólica sobre a crise climática, na qual acusa as grandes potências econômicas de não se preocuparem com o meio ambiente e critica o estilo de vida ocidental.
Batizado como "Laudate Deum" ("Louve a Deus"), o documento é uma espécie de continuação da encíclica ecológica "Laudato si'" ("Louvado sejas"), publicada em 2015 e que defende a criação de modelos de desenvolvimento alinhados com a proteção do meio ambiente.
"A origem humana da mudança climática já não se pode pôr em dúvida. Nos últimos 50 anos, a temperatura aumentou a uma velocidade inédita, sem precedentes nos últimos 2 mil anos", diz o Papa na exortação apostólica.
"Infelizmente, a crise climática não é propriamente uma questão que interesse às grandes potências econômicas, preocupadas em obter o maior lucro ao menor custo e no mais curto espaço de tempo possíveis", acrescenta.
Ainda segundo Francisco, as emissões per capita de gases do efeito estufa nos Estados Unidos são o dobro das da China e cerca de sete vezes superiores à média dos países mais pobres.
"Podemos afirmar que uma mudança generalizada do estilo de vida irresponsável ligado ao modelo ocidental teria um impacto significativo a longo prazo", salienta o pontífice.
O líder católico ainda afirma que "a lógica do máximo lucro ao mínimo custo, disfarçada de racionalidade, progresso e promessas ilusórias, torna impossível qualquer preocupação sincera com a casa comum e qualquer cuidado pela promoção dos descartados da sociedade".
"Nos últimos anos, podemos notar como às vezes os próprios pobres, confundidos e encantados perante as promessas de tantos falsos profetas, caem no engano de um mundo que não é construído para eles. Incrementam-se ideias erradas sobre a chamada 'meritocracia', que se tornou um poder humano ao qual tudo se deve submeter, um domínio daqueles que nasceram com melhores condições de progresso", diz.
COP28
O Papa ainda dedica um capítulo inteiro da exortação apostólica à próxima cúpula climática da ONU, a COP28, que acontecerá entre 30 de novembro e 12 de dezembro, nos Emirados Árabes Unidos.
De acordo com Jorge Bergoglio, é preciso sonhar que a reunião "leve a uma decidida aceleração da transição energética, com compromissos eficazes que possam ser monitorados de forma permanente".
"Essa conferência pode ser um ponto de virada, comprovando que era sério e útil tudo o que se realizou desde 1992; caso contrário, será uma grande desilusão e colocará em risco quanto se pôde alcançar de bom até aqui", afirma.
Francisco também aponta que a humanidade tem pouco tempo para evitar "danos ainda mais dramáticos" provocados pela crise climática e diz estar convicto de que "ninguém se salva sozinho".
"Por muito que se tente negá-los, escondê-los, dissimulá-los ou relativizá-los, os sinais da mudança climática impõem-se-nos de forma cada vez mais evidente. Ninguém pode ignorar que, nos últimos anos, temos assistido a fenômenos extremos, a períodos frequentes de calor anormal, seca e outros gemidos da terra que são apenas algumas expressões palpáveis de uma doença silenciosa que nos afeta a todos", destaca.
A exortação foi publicada no Dia de São Francisco de Assis, santo que inspirou o nome de Bergoglio como Papa e conhecido por sua ligação com a natureza. O objetivo é atualizar e reforçar a mensagem da encíclica "Laudato si'", em meio ao crescente sentido de urgência por conta da falta de ações efetivas contra a crise climática.
"Com o passar do tempo, dou-me conta de que não estamos reagindo de modo satisfatório, pois este mundo que nos acolhe talvez esteja se aproximando de um ponto de rutura", alerta o pontífice. (ANSA)
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