Por Maurizio Salvi – A sua casa fica em um vilarejo do Mato Grosso, no coração da Amazônia brasileira. Mas, já há algum tempo, o seu palco tem sido o mundo inteiro. Onde quer que seja convidado, ele vai, porque o líder indígena Raoni Metuktire, hoje com 93 anos, consagrou sua vida não só à defesa da floresta amazônica, mas para alertar que, diante dos desastres climáticos da nossa época, “nada se salva sozinho”.
Isto levou-o, há um ano, a andar no tapete vermelho do Festival de Cinema de Cannes, e a ir em março passado a Belém, onde o presidente francês, Emmanuel Macron, acompanhado por seu homólogo brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, lhe presenteou com a insígnia da Legião de Honra.
E agora uma nova oportunidade lhe foi oferecida pelo papa Francisco, que o quis entre os protagonistas da cúpula internacional “Da crise climática à resistência climática”, que foi realizada na Casina Pio VI, da Cidade do Vaticano.
Evocando o encontro que teve com o Pontífice, Raoni disse à ANSA: “Pedi-lhe que deixasse claro aos católicos que o seguem no Brasil qual é a orientação da Igreja sobre as questões ambientais, porque às vezes eles parecem não ter entendido a mensagem”.
Expressando-se na língua do povo indígena Mebengokre, Raoni destacou que “um vazio está sendo criado progressivamente em torno de nossas terras na Amazônia e não há mais nada verdadeiramente protegido”.
“Vivemos quase em ilhas e, como se não bastasse, há pessoas que não estão satisfeitas, que querem atacar até as reservas onde vivemos, pondo em causa a nossa sobrevivência”.
“O que está a acontecer?, questionou ele, acrescentando que se “preocupa porque as pessoas que vivem no mundo desenvolvido não entendem que isto é um problema para nós, mas também para eles”.
Segundo o cacique, agora no Brasil, "estamos perante um 'monstro' com duas cabeças: por um lado os graves fenômenos de seca no norte do país, onde os incêndios se multiplicam, e por outro a tragédia das inundações, como a um ocorrido recentemente no Sul do Brasil".
Com foco nas terras indígenas, Raoni lembrou que, “quando Lula se tornou presidente, ele me prometeu que as demarcaria claramente”.
“Ainda estou esperando que isso aconteça. É claro que temos melhores relações com o seu governo do que quando Jair Bolsonaro estava no poder. Mas no momento para nós há muitas palavras, mas poucas ações”.
Dirigindo-se ao grande grupo de especialistas que o ouviram e que no final da exposição lhe ovacionaram de pé na cúpula, Raoni argumentou que “o mundo desenvolvido parece convencido da urgência da luta contra as alterações climáticas”.
“Mas agora precisamos decidir financiar imediatamente as ferramentas para iniciar os projetos necessários, antes que seja tarde demais. É inútil lembrar que normalmente não usamos dinheiro em nossas reservas. O dinheiro, em grandes quantidades, é usado no mundo desenvolvido”, afirmou ele, garantindo que “chegou a hora de usar [o dinheiro] para salvar a vida no planeta”.
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