Duas brasileiras convidadas para participar do Sínodo dos Bispos de 2024, que se encerra no Vaticano neste domingo (27), apoiaram a decisão do papa Francisco de barrar neste momento as discussões sobre a ordenação de mulheres para o diaconato.
O posicionamento do pontífice, que acredita que a questão "ainda não está madura", foi divulgado no último dia 21 de outubro pelo prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé, cardeal Victor Manuel Fernández, aos membros da reunião episcopal.
Em entrevista à ANSA, Sônia Gomes de Oliveira, presidente do Conselho Nacional do Laicato do Brasil (CNLB), e Maria Cristina dos Anjos, assessora nacional para Migração e Refúgio da Cáritas Brasileira, apoiaram a decisão, apesar de ser um "tema muito sensível" que precisa ser "dialogado de acordo com a sensibilidade" - ambas integram o grupo de 70 católicos escolhidos por Jorge Bergoglio para participar do Sínodo.
"A Igreja Católica é milenar e, para fazer uma mudança radical como essa, precisa de um tempo muito grande", afirmou Oliveira, lembrando que o assunto tem sido discutido desde 2020.
No entanto, segundo a presidente do CNLB, a decisão do Papa não significa que as portas estão "fechadas totalmente para o diaconato".
Na hierarquia católica, diáconos podem celebrar a Eucaristia, distribuir a Comunhão, abençoar matrimônios e pregar o Evangelho. Por outro lado, diferentemente de padres, não celebram missas nem ouvem confissões, assim como não são celibatários, e alguns grupos defendem a ordenação de diaconisas para enfrentar a escassez de sacerdotes em algumas regiões.
"Não é conformismo, mas talvez tenha sido o melhor caminho mesmo, porque nós precisamos fazer uma leitura justamente das mulheres que estão nas comunidades e que vestem este ministério", justificou Oliveira, destacando, contudo, que a Igreja ainda é muito masculinizada.
"Não só o tema do diaconato, mas outros temas são assuntos, para a gente da América Latina, tão comuns, tranquilos, mas em outras regiões isso é algo estranho, não é entendido", ressaltou Dos Anjos.
De acordo com a assessora da Cáritas, mesmo que todos tenham "clareza da importância da participação da mulher", que é um "motor" da Igreja, principalmente nas comunidades menores, é preciso criar caminhos para explicitar essas diferentes vivências.
"Na região amazônica, as mulheres só não estão colocadas como diaconisas, mas vivenciam tudo isso. Então a gente precisa demonstrar que isso é algo que já acontece e que as mulheres podem viver o diaconato", salientou.
Oliveira e Dos Anjos foram à Itália representando as mulheres, o laicato e outros grupos, como indígenas e LGBTQIA+.
Provenientes de Minas Gerais, ambas têm uma vida pautada pela atuação em projetos sociais ligados à Igreja Católica no Brasil.
Questionadas sobre a eventual ordenação de homens casados como padres e o acolhimento à comunidade LGBTQIA+, as brasileiras disseram que as discussões estavam presentes no Sínodo, mas com pouca ressonância. "Na verdade, a gente não tinha que fazer discussões de quem a gente acolhe, quem a gente não acolhe, qual é o lugar do LGBTQIA+, qual é o lugar da mulher. A Igreja deveria ser de todo mundo", concluiu a assessora da Cáritas.
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