(ANSA) - O papa Francisco revelou que o Vaticano ainda sofre com o desaparecimento da adolescente Emanuela Orlandi, ocorrido há mais de 40 anos, e lembrou que há uma investigação aberta para revelar a verdade sobre o caso.
A declaração consta em um trecho do livro "Vida. A minha história na História", autobiografia do Pontífice escrita com o correspondente da Mediaset no Vaticano, Fabio Marchese Ragona, antecipado pela ANSA nesta sexta-feira (15).
"No Vaticano ainda sofremos muito com a morte, ocorrida há mais de 40 anos, de uma das nossas cidadãs, Emanuela Orlandi, que tinha 15 anos na época", lembra o Pontífice, destacando que "continua a rezar por ela e por seus familiares, principalmente por sua mãe".
Francisco ressalta que "há uma investigação aberta no Vaticano para que se possa esclarecer esta história e para a verdade vir à tona".
"Falando de Emanuela, porém, quero que todas as famílias que choram o falecimento de um ente querido sintam a minha proximidade. Estou próximo deles", acrescenta ele no livro que será lançado no próximo dia 19 de março na Itália e em 20 outros países ao redor do mundo.
Para Pietro Orlandi, irmão de Emanuela, as palavras do Papa são "importantes, não apenas palavras de proximidade, mas palavras sobre a necessidade de chegar à verdade".
"É uma mensagem dirigida ao promotor da justiça Diddi responsável por investigar através do inquérito que o próprio papa Francisco quis no ano passado", afirmou o familiar da italiana.
Segundo Pietro, esta também é uma "mensagem dirigida a quem sabe, mas não fala, um convite à abertura e à colaboração". "São palavras importantes também para a nova Comissão Parlamentar instalada para que possa dar uma contribuição positiva na busca da verdade", concluiu.
Relembre o caso
Emanuela Orlandi é filha de um funcionário da Santa Sé, cidadã do Vaticano e residia dentro dos muros do menor país do mundo, mas desapareceu enquanto voltava para casa há 40 anos.
Diversas hipóteses foram consideradas nas últimas décadas, desde crime comum até vingança contra seu pai ou contra o Vaticano.
O filme "A verdade está no céu" (2016), de Roberto Faenza, cogita que Orlandi tenha sido sequestrada por mafiosos e jogada em uma betoneira. Nenhuma das hipóteses, no entanto, foi confirmada pela Justiça.
Em 2019, o Vaticano chegou a abrir um inquérito para apurar se ossadas encontradas em um imóvel da Igreja Católica pertenciam à desaparecida, mas o caso foi encerrado no ano seguinte, uma vez que os restos mortais eram anteriores ao fim do século 19.
Já em novembro de 2022, o lançamento da série "A Garota Desaparecida do Vaticano", pela Netflix, reacendeu a atenção sobre o caso, e cartazes com o rosto de Orlandi voltaram a aparecer nas ruas de Roma.
O caso voltou a ser investigado pelo Vaticano em janeiro de 2023 e em novembro o Senado da Itália aprovou um projeto de lei para criar uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) sobre o desaparecimento de Orlandi e Mirella Gregori em 1983.
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