(ANSA) - O papa Francisco voltou a denunciar a pobreza que afeta milhares de pessoas em todo o mundo e fez um apelo por novos modelos de desenvolvimento.
O apelo foi feito na mensagem para a Quaresma 2024, sob o tema "Através do deserto Deus nos guia para a liberdade", divulgada nesta quinta-feira (1º).
O Pontífice alertou sobre um "modelo de crescimento que nos divide e rouba nosso futuro", no que chama de "uma dominação que nos deixa exaustos e insensíveis".
"A terra, o ar e a água estão poluídos por ela, mas as almas também estão contaminadas por tal domínio. Embora a nossa libertação tenha começado com o batismo, permanece em nós uma nostalgia inexplicável da escravatura. É como uma atração pela segurança das coisas já vistas, em detrimento da liberdade", ressaltou.
Francisco destacou que "o êxodo da escravidão para a liberdade não é um caminho abstrato" e o primeiro passo é querer ver a realidade para que a nossa Quaresma também seja concreta.
Além disso, ele voltou a alertar contra a "globalização da indiferença", lembrando de sua viagem à ilha de Lampedusa, no sul da Itália, em 2023, quando deixou duas perguntas, que se tornam cada vez mais atuais: "Onde você está?" e "Onde está seu irmão?", passagens do primeiro livro da Bíblia, o Gênesis.
"Ainda hoje o grito de muitos irmãos e irmãs oprimidos chega ao céu. Perguntemo-nos: e chega também a nós? Mexe conosco? Nos comove?", questionou.
Para o argentino, "há muitos fatores que nos afastam uns dos outros, negando a fraternidade que originariamente nos une", e "o caminho quaresmal será concreto se, ouvindo-os novamente, confessarmos que hoje ainda estamos sob o domínio do Faraó".
Na mensagem, ele lamentou que, em um mundo com "níveis de progresso científico, técnico, cultural e jurídico capazes de garantir a dignidade para todos", a humanidade viva ainda na "escuridão das desigualdades e dos conflitos".
No entanto, explicou que a Quaresma "é um tempo de conversão, um tempo de liberdade".
"Deus não quer súditos, mas filhos. O deserto é o espaço onde a nossa liberdade pode amadurecer numa decisão pessoal de não voltar a cair na escravidão. Na Quaresma, encontramos novos critérios de juízo e uma comunidade com a qual avançar por um caminho nunca percorrido", reforça Francisco.
A mensagem destaca também os "vínculos opressivos" que os cristãos precisam abandonar e só se dão conta disso quando "nos falta a esperança" e "vagueamos na vida como em terra desolada, sem uma terra prometida".
Na sequência, o líder da Igreja Católica diz que "enquanto os ídolos tornam mudos, cegos, surdos, imóveis aqueles que os servem, os pobres em espírito estão imediatamente disponíveis e prontos: uma força silenciosa de bem que cuida e sustenta o mundo".
Por fim, Jorge Bergoglio recorda o que disse aos jovens encontrados na Jornada Mundial da Juventude de Lisboa no ano passado, afirmando que é preciso "procurar e arriscar".
"Nesta conjuntura histórica os desafios são enormes e dolorosos. Estamos a assistir a uma terceira guerra mundial fragmentada. Mas vamos correr o risco de pensar que não estamos em agonia, mas sim em parto. Não no final, mas no início de um grande show. É preciso coragem para pensar isto", concluiu.
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