O papa Francisco afirmou nesta terça-feira (26), durante sua viagem ao Canadá, que a Igreja Católica não pode priorizar a defesa da instituição em detrimento da busca pela verdade.
A declaração foi dada em uma peregrinação ao Lago de Santa Ana, a pouco menos de 80 quilômetros de Edmonton, após pedidos de desculpas pelos abusos contra indígenas cometidos em antigos internatos católicos canadenses.
"Agora todos nós, enquanto Igreja, precisamos de cura. Precisamos ser curados da tentação de nos fechar em nós mesmos, de escolher a defesa da instituição ao invés da busca pela verdade, de preferir nosso poder mundano ao serviço evangélico", afirmou o pontífice durante a liturgia da palavra.
O Lago de Santa Ana é meta de peregrinação desde o fim do século 19 e homenageia uma santa bastante cultuada pelos indígenas canadenses. "Aqui podemos sentir verdadeiramente o pulsar de um povo peregrino", disse Francisco para os cerca de 10 mil fiéis presentes no evento.
O Papa ainda declarou que os indígenas são "preciosos" para a Igreja e que a cura das comunidades católicas precisa partir dos "mais pobres e marginalizados". "Frequentemente nos deixamos guiar pelos interesses dos poucos que estão bem, mas é preciso olhar mais para as periferias e escutar o grito dos últimos", salientou.
"É o grito dos idosos que arriscam morrer sozinhos em casa ou abandonados em um asilo, de doentes aos quais é administrada a morte no lugar do afeto, é o grito sufocado dos jovens mais interrogados que ouvidos e cuja liberdade é delegada a um celular", disse.
A visita do Papa ao Canadá acontece na esteira da descoberta de valas comuns com centenas de corpos não identificados nos terrenos de antigos internatos católicos, expondo as feridas nunca curadas da cristianização forçada de nativos.
Essas escolas tinham como objetivo "educar" os indígenas de acordo com os preceitos cristãos, mas, para isso, retiravam crianças à força de suas comunidades e as obrigavam a abandonar seus costumes e sua língua.
Além disso, os alunos eram vítimas frequentes de abusos sexuais e físicos por parte dos professores. Estima-se que cerca de 150 mil nativos tenham passado por essas escolas até a década de 1970.
Francisco fica no Canadá até sexta-feira (29) e chega nesta quarta (27) em Québec, capital da região de língua francesa do país.
O dia será marcado por encontros com o premiê Justin Trudeau e a governadora-geral Mary Simon, representante oficial da rainha Elizabeth II no Canadá e primeira indígena a ocupar o cargo. O pontífice também se reunirá com autoridades civis, diplomáticas e dos povos nativos. (ANSA)
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