Em seu primeiro evento ao ar livre no Canadá, o papa Francisco celebrou na tarde desta terça-feira (26) uma missa no estádio da Commonwealth em Edmonton, um dia após pedir perdão pelo sofrimento causado aos povos indígenas do país.
A celebração acontece no dia em que a Igreja Católica comemora a festa de Santa Ana, mãe da Virgem Maria e avó de Jesus. As autoridades locais estimam que cerca de 50 mil fiéis participam da missa, de acordo com a assessoria de imprensa do Vaticano.
Durante sua homilia, o líder católico convidou todos a pensarem nos próprios avós e refletiu sobre o importante papel deles na transmissão da fé, destacando "a necessidade de preservar a memória dos que nos precederam".
Segundo Francisco, "na casa de Joaquim e Ana, Jesus conheceu os idosos da sua família e experimentou a proximidade, a ternura e a sabedoria dos avós".
Ele destacou que todos "somos filhos de uma história que precisa ser preservada - não indivíduos isolados - pois ninguém vem ao mundo separado dos outros". Desta forma, as raízes e famílias em que crescemos fazem parte de uma história única que nos precedeu e nos deu vida.
"Para acolher verdadeiramente quem somos e quão preciosos somos, precisamos assumir aqueles de quem descendemos, aqueles que não só pensaram em si mesmos, mas transmitiram o tesouro a nós da vida", disse o argentino, acrescentando que são eles que nos amam incondicionalmente, sem esperar nada em troca.
De acordo com Jorge Bergoglio, graças aos avós que "aprendemos que a bondade, o amor terno e a sabedoria são as raízes sólidas da humanidade". Além disso, foi em suas casas que muitos "inspiramos a fragrância do Evangelho" e descobrimos uma fé "familiar", através do afeto, do encorajamento, do cuidado e da proximidade.
Para o Santo Padre, os avós "nos transmitiram algo que dentro de nós nunca poderá apagar e, ao mesmo tempo, nos permitiram ser pessoas únicas, originais e livres".
Durante a celebração, Francisco explicou ainda que "foi precisamente de nossos avós que aprendemos que o amor nunca é um constrangimento, nunca priva o outro da sua liberdade interior".
"Procuremos aprender isto como indivíduos e como Igreja: nunca oprimir a consciência do outro, nunca acorrentar a liberdade dos que estão à nossa frente e, acima de tudo, nunca faltar amor e respeito pelas pessoas que nos precederam e nos são confiados, tesouros preciosos que guardam uma história maior do que eles", enfatizou.
Na sequência, o líder da Igreja Católica questionou se "somos filhos e netos que sabemos conservar as riquezas recebidas", se "recordamos os bons ensinamentos herdados", se dedicamos tempo a ouvi-los" ou até "preservamos suas memórias em um lugar especial nas casas cada vez mais equipadas e modernas".
"Rezar por eles e em união com eles, dedicar tempo para recordar, guardar o legado: no nevoeiro do esquecimento que assalta os nossos tempos turbulentos é essencial cultivar as raízes. É assim que a árvore cresce, é assim que se constrói o futuro", ressaltou o Papa.
Além disso, o Pontífice perguntou que sociedade os fiéis querem construir. "Recebemos tanto das mãos daqueles que nos precederam: o que queremos deixar à nossa posteridade? Uma fé viva ou 'água de rosas', uma sociedade fundada sobre o lucro dos indivíduos ou da fraternidade, um mundo em paz ou em guerra, uma criação devastada ou uma casa ainda acolhedora?", questionou.
Para o argentino, "além de filhos de uma história a ser preservada, somos artesãos de uma história a ser construída" e "cada um pode reconhecer o que é, com suas luzes e sombras, segundo o amor".
Segundo o Papa, "o mistério da vida humana é este: todos somos filhos de alguém, gerados e formados por alguém, mas quando nos tornamos adultos somos também chamados a ser geradores, pais, mães e avós de outra pessoa".
Por fim, recordou "a importância espiritual de honrarmos os nossos avós e os nossos anciãos, para valorizar sua presença para construir um futuro melhor".
"Um futuro onde os idosos não sejam descartados porque funcionalmente 'não são mais necessários'; um futuro que não julgue o valor das pessoas apenas pelo que elas produzem; um futuro que não seja indiferente a quem, agora avançado em idade, precisa de mais tempo, escuta e atenção; um futuro em que ninguém repetirá a história de violência e marginalização sofrida por nossos irmãos e irmãs indígenas", explicou.
Para Bergoglio, este "é um futuro possível se, com a ajuda de Deus, não rompermos o vínculo com aqueles que nos precederam e promovermos o diálogo com os que virão depois de nós: jovens e velhos, avós e netos, juntos. Vamos sonhar juntos", concluiu.
Após a celebração, Francisco, que está usando uma cadeira de rodas e bengala para se locomover devido às dores no joelho, deve visitar Lac Ste. Anne, um local de peregrinação a cerca de 70 km a oeste de Edmonton, popular entre os católicos canadenses indígenas e os de origem europeia.
Já amanhã, o religioso viajará para a cidade de Quebec como parte mais institucional de sua visita. Lá ele se reunirá com funcionários do governo e diplomatas. (ANSA)
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