O papa Francisco pediu neste sábado (5) aos responsáveis pelos municípios italianos que as periferias sejam "laboratórios de uma economia e sociedade diferentes" e fez um apelo por um "projeto de convivência civil e de cidadania", que inclui investimentos onde há mais degradação.
"Partir das periferias não significa excluir alguém, é uma escolha de método; não uma escolha ideológica, mas partir dos pobres para servir o bem de todos. Você sabe muito bem: não há cidade sem pobres. Eu acrescentaria que os pobres são a riqueza de uma cidade. Eles lembram-nos das nossas fragilidades e que precisamos uns dos outros", afirmou o Pontífice aos membros da Associação Nacional das Prefeituras Italianas (Anci) durante audiência no Vaticano.
O Papa pediu aos prefeitos que olhem para as periferias, indicando que o todo se vê melhor a partir dessas regiões.
"Quando lidamos com as pessoas, não basta dar um pacote de comida. A sua dignidade exige um trabalho e, portanto, um projeto em que cada um seja valorizado pelo que pode oferecer aos outros. O trabalho é verdadeiramente uma unção de dignidade", acrescentou.
Francisco agradeceu o trabalho realizado pelos gestores durante a pandemia, que foi "essencial para que quem tem responsabilidade legislativa tomasse decisões oportunas para o bem de todos", mas lembrou as fragilidades que a emergência sanitária acarretou.
"Em tempos de pandemia descobrimos a solidão e os conflitos dentro das casas, que ficavam escondidas; a tragédia de quem teve que fechar a sua atividade econômica, o isolamento dos idosos, a depressão de adolescentes e jovens - basta pensar no número de suicídios de jovens -, as desigualdades sociais que favoreceram aqueles que já gozavam de condições econômicas confortáveis, os esforços das famílias que não chegam ao fim do mês", lamentou.
Jorge Bergoglio lembrou também da importância das redes de solidariedade e da generosidade de "voluntários, vizinhos, pessoal de saúde e administradores que se dedicaram a aliviar o sofrimento e a solidão dos pobres e idosos".
Por fim, o religioso enfatizou que "às vezes temos a ilusão de que o financiamento adequado é suficiente para resolver os problemas", mas "isso não é verdade".
"Na realidade, é preciso também um projeto de convivência civil e de cidadania: é preciso investir na beleza onde há mais degradação, na educação onde impera o mal-estar social, nos lugares de convivência social onde se observam reações violentas, na formação para a legalidade onde a corrupção domina", indicou.
Segundo ele, "saber sonhar com uma cidade melhor e partilhar o sonho com outros gestores locais, com os eleitos para a câmara municipal e com todos os cidadãos de boa vontade é um índice de assistência social".
"A mesma política da qual vocês são protagonistas pode ser um campo de treinamento para o diálogo entre as culturas, antes mesmo da barganha entre os diferentes lados. A paz não é a ausência de conflito, mas a capacidade de fazê-lo evoluir para uma nova forma de encontro e convivência com 'outros'", acrescentou.
O argentino pediu que todos os prefeitos permaneçam junto do povo, afirmando que também é "prefeito de alguma coisa". (ANSA)
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