(ANSA) - A primeira viagem de Joe Biden ao exterior como presidente dos Estados Unidos em 2021 foi uma missão comemorativa para tranquilizar os aliados democráticos de que a América estava de volta. Mas depois da vitória de Donald Trump, as duas cúpulas no exterior para o presidente cessante dos EUA - Apec, em Lima, e G20, no Rio de Janeiro, na segunda (18) e terça-feira (19) - são o último canto do cisne, que se transforma em um alerta sobre a rápida mudança na ordem global.
"O mundo enfrenta uma mudança política importante", disse Biden no Peru, no seu encontro com os líderes do Japão e da Coreia do Sul. Um conceito que repetirá no seu encontro bilateral com o chinês, Xi Jinping, e também com o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, com quem deve se encontrar na Amazônia - local simbólico de colaboração no combate às mudanças climáticas - antes de desembarcar no Rio.
Uma cooperação em matéria de ambiente, que com os Estados Unidos sob a liderança republicana corre agora o risco de desmoronar.
Por outro lado, Trump é o convidado de pedra da cúpula brasileira, onde a declaração final é negociada até o último minuto, em uma tentativa de desatar os nós dos dossiês geopolíticos da Ucrânia e do Oriente Médio.
O russo Vladimir Putin desertou da cúpula do Rio e mandou novamente o chefe da diplomacia, Sergey Lavrov, que ainda assim ficará de olho no jogo com Kiev, tal como já aconteceu na reunião das Relações Exteriores do G20, em fevereiro, que terminou sem uma declaração final.
Para complicar o trabalho dos negociadores, chegou também a reviravolta da Argentina, de Javier Milei, sobre a tributação dos super-ricos. Um recurso considerado uma fonte importante para a Aliança no combate à fome e à pobreza, um dos três pilares - juntamente com a reforma da governança global e a transição energética - do G20 liderado pelo Brasil.
Em particular, vale destacar que antes de chegar ao Brasil, Milei voou para Mar-a-Lago para se encontrar com o magnata norte-americano e seu agora braço-direito, o bilionário Elon Musk, surgindo com uma declaração na qual levanta a hipótese de um eixo de países "faróis do mundo ocidental", que se consolidarão graças à liderança de Trump em Washington, com "os Estados Unidos no Norte, a Argentina no Sul, a Itália", de Giorgia Meloni, "na velha Europa e Israel como sentinela na fronteira no Oriente Médio" Quase uma profecia. Um cenário que os observadores políticos questionam e no qual a União Europeia, de Ursula von der Leyen, e o Brasil, de Lula, sentem a necessidade de acelerar o acordo UE-Mercosul.
O acordo entre os dois blocos, paralisado há mais de 20 anos, poderá ser concretizado também por razões geopolíticas, bem como por razões econômicas, permitindo aos 27 uma maior autonomia estratégica em relação aos Estados Unidos, de Trump, e aos sul-americanos dos Brics, de Xi.
Segundo os últimos rumores, a assinatura - apenas na parte comercial do acordo - poderá chegar já no dia 6 de dezembro, na cúpula do Mercosul em Montevidéu. Milei permitindo.
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