A 10 dias da cúpula dos líderes do G20, no Rio de Janeiro, a vitória de Donald Trump nos Estados Unidos levanta um clima de incerteza sobre os reais fundamentos do que será acordado entre as principais economias mundiais.
Não é difícil prever que a postura de Washington a partir de 20 de janeiro, data da posse do novo presidente, poderá marcar um novo passo no avanço de dossiês como a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, a tributação dos super-ricos, a luta contra as alterações climáticas e o desmatamento da Amazônia.
Todos os temas, que juntamente com a reforma das organizações multilaterais, constituem a espinha dorsal da cúpula de 18 a 19 de novembro, sob a presidência brasileira de Luiz Inácio Lula da Silva.
Embora Joe Biden tenha telefonado nas últimas horas ao chefe de Estado sul-americano para lhe assegurar a sua presença na reunião, confirmando a decisão da Casa Branca de aderir a Aliança Global contra a Fome e garantindo a convergência na promoção da transição energética, os próximos meses reservam muitas incógnitas.
Ainda está viva a memória de como, no seu mandato anterior, Trump não só reduziu os espaços de discussão internacional, cortando fundos para as Nações Unidas, que por exemplo alimentam iniciativas de cooperação para combater a pobreza. Mas acima de tudo, um dos seus primeiros anúncios, em 2017, foi a saída dos EUA dos acordos climáticos de Paris.
Uma medida em defesa dos trabalhadores americanos - assim a justificou o magnata - pelo peso econômico dos seus alvos. Um precedente não aceitável para o Brasil, que trabalha para fortalecer o Fundo de Defesa da Amazônia e que sediará a COP 30 sobre o clima em Belém, em 2025.
Por outro lado, com a chegada de Trump à Casa Branca, a posição de Lula tornou-se mais incômoda, tanto pelo fortalecimento do seu adversário interno - o líder de direita Jair Bolsonaro sobre quem prevaleceu por um punhado de votos em 2022 - mas também pelo de seu antagonista na região - o chefe de Estado argentino ultraliberal, Javier Milei.
A situação corre o risco de enfraquecer a liderança brasileira e o seu papel como articulador entre o Ocidente e o Sul Global. O equilíbrio é delicado. Tanto é que, após tentar esconder, Lula tomou a iniciativa e, em entrevista exclusiva à CNN internacional, pediu ao próximo ocupante da Casa Branca para incluir as questões ambientais em seus planos de governo.
"Você deve perceber que os EUA estão no mesmo planeta que eu", disse ele. "Devemos assumir a responsabilidade pela manutenção deste planeta Terra e garantir que ele não aqueça mais de 1,6 graus". Um apelo que o mundo espera que não se perca no vento.
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