(ANSA) - A primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, enviou uma carta para a União Europeia em que afirma que o bloco tem o "dever moral" de evitar novas tragédias com migrantes, como a que foi registrada em Cutro no último domingo (26), e que é preciso agir politicamente sobre o tema de maneira incisiva.
No incidente na costa italiana, 67 pessoas morreram e estima-se que cerca de 100 ainda podem estar desaparecidas. Outras 80 foram salvas.
"O naufrágio ocorrido nos últimos dias a poucos metros do litoral de Crotone, no qual morreram dezenas de pessoas, incluindo muitas crianças, atingiu a todos nós. Não se trata, infelizmente, de um caso isolado. Na Itália, há muitos anos choramos tragédias como essa do último domingo. [...] É nosso dever, moral antes que político, fazer de tudo para evitar que desgraças como essa se repitam", disse Meloni.
A líder do Executivo italiano afirmou que, no último Conselho Europeu, realizado em fevereiro, "identificamos algumas medidas que que vão na direção certa, mas o fator tempo é decisivo".
"É fundamental e urgente adotar rapidamente iniciativas concretas, fortes e inovadoras para combater e retirar o incentivo para as saídas ilegais, recorrendo também a urgentes envios financeiros extraordinários para os países de origem e trânsito até que colaborem ativamente", acrescentou.
Meloni ainda pontuou que "é fundamental distinguir o acolhimento dos deslocados e refugiados das políticas migratórias de quem, compreensivelmente, pede para vir à Europa por razões econômicas" e voltou a pedir que a "Itália não seja deixada sozinha" nos debates sobre isso.
"Refuto a ideia que nada possa ser feito e que a Europa deva aceitar cuidar só de quem consegue se aproximar de nossas costas ou de nossas fronteiras depois de ter confiado a própria vida e aquela dos próprios filhos para traficantes sem escrúpulos, pagos generosamente para fazer as viagens dos desesperados", acrescentou.
O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, confirmou o recebimento da carta italiana por meio de seu porta-voz, Barend Leyts, e confirmou que o tema será debatido no próximo encontro dos líderes do bloco, agendado para 23 e 24 de março.
Frontex
A carta de Meloni surge em um momento também de tensão entre o governo da Itália e a agência da União Europeia para controle de fronteiras, Frontex, que trocam acusações sobre a embarcação superlotada que naufragou em Cutro.
Em novas informações divulgadas nesta quarta-feira, o e-mail enviado pela Frontex às 23:03 do sábado (25) apontava o avistamento do barco "com possíveis outras pessoas sob cobertura", mas que tinha uma "boa flutuabilidade" naquele momento.
"A bordo, era apenas visível uma pessoa. A embarcação navegava sozinha e não haviam sinais de perigo, tinha uma boa flutuabilidade. Há uma significativa resposta térmica das portas abertas (revelada por uma câmera térmica a bordo do avião). Esse fato e outros indicadores causaram suspeição nos especialistas da Frontex. Mesmo que só uma pessoa a bordo fosse vista, de fato, havia uma parte submersa significativa, que indicava que muitas pessoas estavam sob a ponte", informou a Frontex nesta quarta.
A agência ainda pontuou que cabe "aos Estados" determinar as ações mais incisivas nesses casos.
Por sua vez, o ministro do Interior da Itália, Matteo Piantedosi, afirmou a parlamentares que essa notificação da agência europeia não deu nenhum alerta de risco para os italianos.
"O avião da Frontex que identificou a embarcação depois das 22h do dia 25 de fevereiro, a 40 milhas náuticas da Itália, não tinha informado sobre uma situação de perigo ou estresse a bordo, evidenciando a presença de uma pessoa desprotegida e outras sob proteção e uma boa flutuabilidade. Mas, depois, houve uma piora nas condições meteorológicas", afirmou o titular da pasta.
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