Em entrevista à revista americana Time, publicada nesta quarta-feira (4), o pré-candidato Luiz Inácio Lula da Silva comentou a guerra na Ucrânia e disse que o líder do país, Volodymyr Zelensky, é tão responsável quanto o presidente da Rússia, Vladimir Putin, pelo conflito iniciado em 24 de fevereiro.
De acordo com o ex-presidente do Brasil, Zelensky poderia ter negociado mais com a Rússia, mas acabou transformando o conflito em um espetáculo.
"Fico vendo o presidente da Ucrânia na televisão como se estivesse festejando, sendo aplaudido em pé por todos os parlamentos, sabe? Esse cara é tão responsável quanto o Putin. Ele é tão responsável quanto o Putin. Porque numa guerra não tem apenas um culpado", afirmou.
Além disso, Lula condenou a invasão de Putin, mas ressaltou que ele não é o único culpado da guerra iniciada em 24 de fevereiro.
"Putin não deveria ter invadido a Ucrânia. Mas não é só o Putin que é culpado, são culpados os Estados Unidos e é culpada a União Europeia. Qual é a razão da invasão da Ucrânia? É a Otan? Os Estados Unidos e a Europa poderiam ter dito: 'A Ucrânia não vai entrar na Otan'. Estaria resolvido o problema", acrescentou.
O petista defendeu que o líder russo errou ao iniciar a guerra, mas enfatizou que Zelensky poderia ter agido de outra forma para evitar o conflito.
"Ele [Zelensky] quis a guerra. Se ele [não] quisesse a guerra, ele teria negociado um pouco mais. É assim. Eu fiz uma crítica ao Putin quando estava na Cidade do México, dizendo que foi errado invadir. Mas eu acho que ninguém está procurando contribuir para ter paz. As pessoas estão estimulando o ódio contra o Putin. Isso não vai resolver! É preciso estimular um acordo", argumentou Lula.
"Você fica estimulando o cara [Zelensky], e ele fica se achando o máximo. Ele fica se achando o rei da cocada, quando na verdade deveriam ter tido conversa mais séria com ele: 'Ô, cara, você é um bom artista, você é um bom comediante, mas não vamos fazer uma guerra para você aparecer'. E dizer para o Putin: 'Ô, Putin, você tem muita arma, mas não precisa utilizar arma contra a Ucrânia. Vamos conversar!'", acrescentou o ex-presidente.
Na publicação, a Time ainda diz que Lula prepara seu "segundo ato" e reforça que o "presidente mais popular do Brasil retorna do exílio político com uma promessa de salvar a nação".
A reviravolta na trajetória do petista, que foi condenado e preso após o inquérito da Operação Lava Jato, também foi citada pela revista, bem como sua candidatura à presidência. Segundo a Time, ele disputará as eleições contra o atual presidente Jair Bolsonaro e já lidera as pesquisas.
"Eu na verdade nunca desisti da política. A política está em cada célula minha, a política está no meu sangue, está na minha cabeça. Porque o problema não é a política simplesmente, o problema é a causa que te leva à política", afirmou o ex-presidente, que pensou que não se candidataria novamente.
"Quando deixei a Presidência em 2010, efetivamente eu não pensava mais em ser candidato à Presidência da República.
Entretanto, o que eu estou vendo, 12 anos depois, é que tudo aquilo que foi política para beneficiar o povo pobre - todas as políticas de inclusão social, o que nós fizemos para melhorar a qualidade das universidades, das escolas técnicas, melhorar a qualidade do salário, melhorar a qualidade do emprego -, tudo isso foi destruído, desmontado", completou.
Na entrevista concedida à revista, Lula afirmou que tem clareza de que pode "resolver os problemas" do Brasil. "Só tem sentido eu estar candidato à Presidência da República porque eu acredito que eu sou capaz de fazer mais e fazer melhor do que eu já fiz", disse.
Sobre possíveis temores do mercado global com a volta dele ao poder, Lula disse que não há com que se preocupar. "Sou o único candidato com quem as pessoas não devem se preocupar [com a política econômica]. Porque já fui presidente duas vezes. Não discutimos políticas econômicas antes de vencer as eleições. Primeiro, você tem que ganhar as eleições. Você tem que entender que em vez de perguntar o que vou fazer, apenas olhe para o que eu fiz".
Por fim, Lula enfatizou que Bolsonaro estimula o racismo no país. "Não diria que ele tem culpa pelo racismo porque o racismo é crônico no Brasil. Mas ele estimula", respondeu ele a ser questionado sobre as propostas dele para a população negra do país. "O Bolsonaro despertou o ódio, despertou o preconceito. Aí tem outros presidentes também na Europa, na Hungria, [que fazem o mesmo]; está aparecendo muito fascista, muito nazista no mundo".
Reação -
A publicação da matéria acabou irritando a ala apoiadora do presidente Jair Bolsonaro (PL), que criticou a escolha do petista para estampar a capa da revista.
O ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles foi um dos primeiros a reagir à capa. "Quem liga para essa porcaria da revista Time?!", escreveu.
O filho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), por sua vez, publicou uma série de memes sobre a entrevista, incluindo um que Lula aparece na capa da revista, mas através das grades. Além disso, ele sugeriu que a manchete fosse alterada.
"A capa da Time deveria ser assim: 'Inflação chega a 55,1% na Argentina e quase metade da população passa fome'", escreveu ele no Twitter, junto com imagens de Lula ao lado de Cristina Kirchner e do presidente argentino, Alberto Fernández.
Já o vereador Carlos Bolsonaro republicou uma sequência de Felipe G Martins, chefe da assessoria internacional da Presidência da República, sobre a revista, na qual diz que a publicação está "se intrometendo" na política brasileira.
"Diante disso, cabe a cada brasileiro que se importa com o destino do Brasil, e que não deseja ver nosso país perder ainda mais sua autonomia, se dar conta do que está por trás dessa campanha internacional de difamação ao governo Bolsonaro, denunciá-la e respondê-la à altura", escreveu ele.
O deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho "03" do presidente brasileiro, defendeu a liberdade de expressão e disse que é uma forma de opositores se "afundarem sozinhos". "Entende o desespero deles em querer regulamentar a imprensa/internet?", questionou.
Na sequência, ele criticou a escolha da Time. "Como fazer a sua revista perder a credibilidade: retrate o maior bandido de um país como a sua esperança", concluiu. (ANSA)
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