O papa Francisco afirmou nesta quinta-feira que a crise climática requer "uma sinfonia de cooperação e solidariedade global". A declaração foi dada durante um discurso aos participantes do encontro promovido pela Pontifícia Academia de Ciências, intitulado "Da Crise Climática à Resiliência Climática".
"Mediante a redução das emissões, a educação dos estilos de vida, os financiamentos inovadores e o uso de soluções comprovadas baseadas na natureza, reforçamos a resiliência, em particular a resiliência às secas", disse Francisco, alertando para a necessidade de "uma nova arquitetura financeira que responda às exigências do Sul Global e dos países insulares gravemente afetados pelos desastres climáticos".
Francisco instou os presentes a "continuar cooperando à transição da atual crise climática à resiliência climática, com equidade e justiça social": "É preciso agir com urgência, compaixão e determinação, porque o risco em jogo não poderia ser mais alto".
O Papa destacou a vulnerabilidade das mulheres, que por vezes não têm acesso aos mesmos recursos que os homens e cujas responsabilidades com o lar e os filhos pode impedir a migração em caso de catástrofe. Ele ainda citou a situação das crianças: "Quase 1 bilhão vivem em países que enfrentam um risco extremamente elevado de devastação pelo clima".
"Um progresso com ordem é obstaculizado pela voraz busca por ganhos a curto prazo das indústrias poluidoras e pela desinformação, que gera confusão e atrapalha os esforços coletivos para uma inversão de rota", declarou.
O cacique brasileiro Raoni Metuktire, do povo caiapó, notório ativista em defesa da Amazônia, participa da cúpula internacional. Ele se reuniu com o papa Francisco, a quem entregou uma carta pedindo pressão sobre os líderes políticos do Brasil para que trabalhem para proteger os povos originários.
Após relembrar "a força e a clareza" em apoio aos povos indígenas em documentos católicos como a Encíclica "Laudato Si" e a Pastoral da Amazônia, Raoni mencionou as "duas catástrofes climáticas sem precedentes" que atingiram o Brasil: a seca que devastou o Norte do país e as trágicas inundações que atingem o Rio Grande do Sul.
"A nível internacional, enquanto está claro o nosso papel de gestores de enormes recursos ambientais, os programas destinados a enfrentar a crise climática atingiram de maneira insignificante os territórios onde nos encontramos", disse, na carta.
"Dentro do Brasil, estamos assistindo a uma aparente tentativa de reverter nossos direitos constitucionais. O atual Congresso desafiou as sentenças do Supremo Tribunal Federal no caso do chamado 'Marco Temporal' e de outras normas que impedem o governo de cumprir a obrigação de respeitar a Constituição." "Esta ofensiva contra as populações indígenas também encoraja os invasores que causam danos irreversíveis, como a extração ilegal de ouro e outros minerais, que envenenam nossos rios e alimentos", concluiu.
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