(ANSA) - O cardeal Matteo Zuppi disse nesta sexta-feira (21) que a posição do papa Francisco, bem como de todos os Pontífices que já ocuparam o trono de Pedro, "é enfrentar a dor da guerra" e "buscar de todas as formas possíveis os caminhos da paz".
"Devemos observar que a paz nunca é um bem perpétuo, nem mesmo na Europa. Esta consciência deve nos mover para responsabilidades e decisões", declarou o religioso em seu discurso de abertura da conferência "O Código de Camaldoli", recordando o seu nascimento em julho de 1943 "em um dos momentos mais sombrios da longa noite de guerra".
Segundo ele, na época já havia um Papa que, como Francisco hoje, "falava incessantemente de paz, o Pio XII, porque a posição dos Pontífices do século 20 - todos eles - é enfrentar a dor da guerra, buscando de todas as maneiras possíveis os caminhos da paz, curando as feridas da humanidade e favorecendo a solução dos problemas".
Zuppi, que também é presidente da Conferência Episcopal da Itália (CEI), acabou de regressar de sua missão de paz a pedido de Jorge Bergoglio em Washington, depois de ter passado pela Ucrânia e Rússia, e recordou que Pio XII também "acreditava na paz e enfatizava com força o problema do 'depois': a reconstrução da sociedade e da ordem internacional.
O enviado de Francisco reforçou que isso foi feito, entre outras coisas, através de discursos e mensagens de rádio, nas quais indicava o grande objetivo: buscar a paz como fundamento de uma convivência civil liberta do ódio e dos conflitos.
"A presença política, que marcaria a reconstrução e as décadas seguintes, renasceu do seio da cultura", lembrou.
Durante o discurso, Zuppi também afirmou que "um dos problemas de hoje é precisamente o divórcio entre cultura e política, não só para os católicos, ocorrido nas últimas décadas do século 20, como resultado de uma política cotidiana epidérmica, às vezes ignorante, com poucas visões, marcada por interesses modestos, mas muito enfatizados, muito polarizados".
"Deveríamos ter cuidado com tal política, mas muitas vezes acabamos vítimas dela, apanhados no engano da concorrência digital que não significa de forma alguma capacidade, conhecimento dos problemas, solução para eles. Ou seja, a traição da própria política", continuou.
Em relação ao enfraquecimento da democracia, Zuppi lembrou que Pio XII sabia que era necessária uma reflexão ousada e inovadora, além de ser preciso mudar. "O Papa vinculou estreitamente a urgência da paz e a opção pela democracia. Ajudar um, fortaleceu o outro. E devemos lembrar que o enfraquecimento da democracia é sempre um mau presságio para a paz", alertou.
De acordo com o cardeal, por sua vez, Francisco pede a paz e está trabalhando para preparar um "depois" sem guerra. "Se você quer a paz, prepare-se para a paz". Isso "significa promover uma visão que atrai para um mundo diferente e que mobiliza paixões e energias para o construir, mas também organismos e métodos capazes de o manter".
Para Zuppi, "as encíclicas 'Laudato Si'' e 'Fratelli tutti' são seus pilares, intimamente unidos entre si", e "não há cuidado com a casa comum se não aprendermos a reconhecer e tratar uns aos outros como 'todos irmãos'".
"Os olhares e as mentes devem ser despertados para superar o 'círculo vicioso' pelo qual tudo se torna impossível. É por isso que Francisco insiste na paz mesmo quando parece difícil ou na fraternidade mesmo quando a estranheza é galopante, ou o fechamento dos populismos", alertou.
Por fim, o presidente da CEI disse que a democracia parece enfraquecida e em retrocesso no mundo e este é um campo no qual os cristãos devem se dedicar, questionando-se sobre como deve ser a democracia no século 21, para viver aquele amor político sem o qual a política transforma ou degenera".
"Temos de nos concentrar em torno desta emergência decisiva, experiências, tradições, visões, ideias, recursos reais, ainda que dispersos. Nesta perspectiva, seria importante um Camaldoli europeu, com participantes de toda a Europa, para falar de democracia e da Europa", concluiu.
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