(ANSA) - O papa Francisco revelou, durante o retorno da Hungria para a Itália, que a Santa Sé tem uma "missão de paz" sobre a guerra da Ucrânia. A afirmação foi dada durante a tradicional conversa com jornalistas no avião papal neste domingo (30).
No voo, o líder católico foi questionado sobre as conversas que teve com o premiê húngaro, Viktor Orbán, um dos políticos europeus ainda próximos do presidente russo, Vladimir Putin, e sobre a guerra na Ucrânia. Além disso, houve uma inesperada reunião a portas fechadas com o "ex-chanceler" da Igreja Ortodoxa Russa, Hilarion, crítico da invasão russa - e afastado da instituição por conta disso.
"Acredito que a paz sempre se faz abrindo canais, mas se pode fazer com o fechamento. Convido sempre a abrir relações, canais de amizade e isso não é fácil. O mesmo discurso fiz com Orbán e faço um pouco em todos os lugares. Nós conversamos sobre todas essas coisas. A todos interessa a estrada da paz e eu estou disposto a fazer todo o necessário. Agora está em andamento uma missão. Por enquanto, não é pública. Falaremos quando for", disse aos jornalistas.
Ainda no mesmo tema, Francisco foi questionado se a Santa Sé fará algo pelas crianças ucranianas órfãs que foram deportadas para áreas controladas pelas tropas russas.
"Acredito que sim porque a Santa Sé já fez a intermediação de algumas situações de troca de prisioneiros e, por meio da embaixada, tudo andou bem. Penso que também isso pode dar certo. É importante e a Santa Sé está disposta a fazer porque é justo, é uma coisa justa e precisamos fazer até para que isso não seja um casus belli, mas sim uma causa humana. É um problema de humanidade, antes de um problema de guerra. Devemos fazer tudo que for humanamente possível", ressaltou.
Seguindo com a resposta, Jorge Mario Bergoglio disse que pensa ainda nas mulheres que estão indo "para nossos países, como Itália, Espanha, Polônia, Hungria e tantos outros".
"Tantas mulheres estão vindo com as crianças e os maridos ou morreram ou estão lutando na guerra. É verdade que elas estão sendo ajudadas neste momento, mas não podemos perder o entusiasmo de fazer isso porque, se cair o entusiasmo, essas mulheres vão ficar sem proteção, com o perigo de cair nas mãos de pessoas que sempre estão em busca dessas situações. Fiquemos atentos para não perder essa tensão de ajuda que temos com os refugiados", ressaltou.
Francisco também foi questionado sobre a situação com o patriarca Cirilo, líder da Igreja Ortodoxa Russa, que congelou as relações com o Vaticano por conta das constantes críticas à guerra na Ucrânia. Conforme o pontífice, o encontro que deveria ter ocorrido em junho do ano passado "está suspenso" por causa da guerra, "mas ele deve acontecer".
"Com o metropolita Hilarion, uma pessoa que eu respeito mundo, sempre tive uma boa relação. Teve a cortesia de vir me encontrar e depois foi para a missa. É uma pessoa inteligente, com a qual se pode conversar. São relações importantes de serem mantidas e nós temos as mãos dadas com todos. Sobre o Cirilo, falei apenas uma vez desde o início da guerra por 40 minutos. Depois, por meio do metropolita Antonij, que assumiu o lugar de Hilarion, tenho a relação com Cirilo", revelou.
Já sobre as relações com o governo de Putin, o qual ignorou publicamente os pedidos de visita do Vaticano, o Papa contou que tem relações boas com o embaixador que está na Santa Sé, Aleksandr Avdeyev, "que vai deixar o cargo depois de sete anos", e que ele é uma "pessoa muito séria, culta, equilibrada". "A minha relação com a Rússia é basicamente com o embaixador", pontuou.
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