O papa Francisco completa 10 anos de pontificado nesta segunda-feira (13), e sua gestão pode ser resumida pelo desejo de promover a "conversão pastoral e missionária" na Igreja Católica, que encontra raízes no Concílio Vaticano II.
Esse espírito "conciliar" remete aos primórdios do catolicismo, com o amor pelo próximo e pela sobriedade, o despojamento de todas as armadilhas mundanas e símbolos de poder, a preferência pelos pobres, a missão evangelizadora à qual todo batizado é chamado e o apelo à misericórdia, que, para Francisco, constitui a principal marca do cristianismo, a ponto de ele ter dedicado um Jubileu ao tema, entre 2015 e 2016.
"A implementação do Concílio Vaticano II é a carne e os ossos desse pontificado", escreve o cardeal canadense Michael Czerny, um jesuíta como Jorge Bergoglio e prefeito do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral, no jornal The Catholic Leader.
"Da caracterização conciliar dos fiéis como 'povo de Deus', o Papa extrapola que 'cada um de nós é batizado não só para seguir a Cristo, mas para ser um discípulo missionário'". "Não acho que antes o senhor ou a senhora 'católicos', jovens ou menos jovens, se tivessem visto com essa essência e vocação que agora o Papa está desempacotando e libertando", acrescenta Czerny.
Em diversas ocasiões, Francisco repetiu que sente que "o Senhor quer que o Concílio abra caminho na Igreja", em referência às orientações para modernizar o catolicismo, como a permissão para missas na língua de cada país, e não mais apenas em latim, e com o padre de frente para os fiéis.
O Papa deu organicidade a essa conversão pastoral e missionária por meio da Constituição Apostólica "Praedicate Evangelium" ("Preguem o Evangelho"), promulgada um ano atrás, após nove de trabalho, para reformar a Cúria Romana, que deixa de ser o centro de poder, colocando-se a serviço das igrejas locais.
Uma ideia reiterada por Bergoglio é a de uma "Igreja em saída" e que sirva de "hospital de campanha" para as feridas da humanidade. Nessa reforma, o dicastério mais importante não é mais o da Doutrina da Fé (herdeiro da Santa Inquisição), mas sim o da Evangelização.
"Mas sem proselitismo, o proselitismo não é cristão", repete sempre o pontífice, que colocou em terceiro lugar o Dicastério para a Caridade, a antiga Esmolaria Apostólica, com a qual socorre situações de pobreza e privação próximas e distantes, em todas as periferias, não só as "geográficas", mas também as "existenciais".
Enquanto isso, na espera da reviravolta "sinodal" definitiva através das duas Assembleias Gerais dos Bispos previstas para outubro de 2023 e 2024, o outro traço que caracteriza o atual Papa, quase paradoxalmente para um chefe da Igreja Católica, é o seu anticlericalismo.
Para Francisco, o "clericalismo" é uma "perversão do sacerdócio", e a "rigidez, uma de suas manifestações". "O clericalismo condena, separa, chicoteia, despreza o povo de Deus", disse Francisco em setembro de 2019, durante encontro com jesuítas de Moçambique e Madagascar.
Na opinião do Papa, é desse fechamento, que adoece a Igreja e a faz sentir-se superior e imune a qualquer julgamento, que se origina todo tipo de abuso: desde os de poder até os financeiros, passando pela praga da pedofilia. (ANSA)
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