(ANSA) - O papa Francisco anunciou uma mudança na viagem internacional que fará à República Democrática do Congo (RDC) e ao Sudão do Sul entre janeiro e fevereiro deste ano por questões de segurança. A afirmação está em uma entrevista do líder católico à revista espanhola "Mundo Negro".
"Não vejo a hora de fazer essa viagem o quanto antes. O Sudão do Sul é uma comunidade sofredora. O Congo também está sofrendo nesse momento de guerrilha e é por isso que não vou mais a Goma. Não se pode ir lá por causa do andamento da guerrilha. Não é que não vou porque estou com medo, não vai acontecer nada comigo, mas com uma atmosfera do tipo e vendo o que eles estão fazendo, se jogam uma bomba no estádio, matam um monte de pessoas - e nós precisamos cuidar das pessoas", disse à publicação.
A viagem de Francisco deveria ter ocorrido no ano passado, mas foi adiada por conta dos problemas de locomoção do líder católico por um problema sério no joelho. Agora, entre os dias 31 de janeiro e 2 de fevereiro, o chefe da Igreja Católica ficará apenas em Kinshasa, capital da RDC.
Durante a entrevista, o Papa ainda ressaltou que a viagem ao Sudão do Sul, entre 2 e 5 de fevereiro, terá a presença também do arcebispo de Canterbury, Justin Welbin, líder dos anglicanos, e do Moderador da Assembleia Geral da Igreja da Escócia, presbiteriana, reverendo Ian Greenshields.
À publicação, o líder católico condenou a ideia de que o continente africano é um lugar para ser saqueado e explorado por outras nações.
"Há um inconsciente coletivo que diz que a África é para ser explorada. Nos mostra a história, com as independências pela metade. Eles lhe deram a independência econômica do solo pra cima, mas se mantém no subsolo para explorá-lo, é só ver a exploração de outros países que se apropriam de seus recursos", afirmou.
"Nós vemos só a riqueza material e é por isso que, historicamente, ela só foi pesquisada e explorada. Hoje vemos que muitas potências mundiais estão indo lá para saquear, é verdade, eles não veem a inteligência, a grandeza, a arte desse povo", acrescentou.
Francisco ainda foi questionado sobre o fato de outras nações quererem vetar que pessoas do continente africano cheguem aos seus territórios, com muros e cercas ou não resgatando os migrantes no mar.
"Isso é um crime. E são aqueles países que têm um índice demográfico no mínimo, que precisam de pessoas, que têm cidades vazias e não sabem como gerir a inserção dos migrantes. Os migrantes devem ser acolhidos, acompanhados, promovidos e integrados e, se não forem integrados, isso é um mal", pontuou.
O líder católico também não se furtou de comentar a situação europeia com a chegada dos estrangeiros.
"Mas, há uma grande injustiça europeia também, não é verdade? Grécia, Chipre, Itália, Espanha, Malta.. são países que mais estão na zona de acolhimento das migrações e aquilo que aconteceu na Itália, onde mesmo com a política migratória do atual governo seja, digamos assim, no bom sentido, restritiva, as portas sempre foram abertas para salvar as pessoas que a Europa não acolhe. Esses países devem fazer as contas com todos e estão perante um dilema: se rejeitam e mandam de volta para que sejam mortos ou morram, ou fazem isso... é um problema sério que a União Europeia não acompanha", acrescentou.
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