O papa Francisco iniciou neste domingo (28) sua visita à cidade de L'Aquila, na região de Abruzos, no centro da Itália, e realizou a cerimônia do Perdão Celestino (Perdonanza Celestiniana, em italiano) para abrir a Porta Santa da Basílica de Santa Maria de Collemaggio.
O rito é feito desde 1294, inspirado no papa Celestino V, e promove os valores da hospitalidade, fraternidade, reconciliação e paz. Na época, o Santo Padre concedia indulgência a qualquer um que, após a confissão e comunhão, entrasse na Basílica, entre 28 e 29 de agosto.
Essa celebração inaugurou a tradição católica que distribui perdão aos fiéis que atravessam uma porta santa, foi precursora do Jubileu e virou Patrimônio Imaterial da Humanidade.
"Abre-me as portas da justiça", declarou Francisco, com três golpes de pau de oliveira do Getsêmani, dado a ele pelo prefeito da cidade italiana, Pierluigi Biondi. "Quero entrar e dar graças ao Senhor. Esta é a porta do Senhor", repetiu.
Logo depois, ele ouviu a resposta: "Por ela entram os justos", e disse as palavras finais. "Entrarei em tua casa, Senhor". "Vou me curvar em adoração ao teu santo templo".
A Porta Santa foi aberta exatamente às 11h28 (horário local), e, durante a homilia da missa na Basílica de Collemaggio, o religioso expressou a esperança de que "será um templo de perdão, não apenas uma vez por ano, mas sempre, todos os dias" e lembrou "que a paz se constrói através do perdão recebido e dado".
O Santo Padre ainda elogiou a figura de Celestino V, classificando-o como um exemplo de humildade para toda a Igreja Católica.
"A força dos humildes é o Senhor, não as estratégias, os meios humanos, a lógica deste mundo. Não, o Senhor. Nesse sentido, Celestino V foi uma testemunha corajosa do Evangelho, porque nenhuma lógica de poder conseguiu aprisioná-lo", declarou.
De acordo com o Papa, ele é exemplo "de uma Igreja livre da lógica mundana e testemunha, plenamente, daquele nome de Deus que é a misericórdia".
"O homem não é o lugar que ocupa, mas a liberdade de que é capaz e que manifesta plenamente quando ocupa o último lugar, ou quando lhe é reservado um lugar na cruz", acrescentou.
O líder da Igreja Católica desafiou todos os fiéis a assumirem "a força dos humildes", porque a "humildade não consiste na desvalorização de si mesmo, mas naquele realismo saudável que nos faz reconhecer as nossas potencialidades e também as nossas misérias".
"Recordamos erroneamente a figura de Celestino V como 'aquele que fez a grande recusa', segundo a expressão de Dante na 'Divina Comédia'; mas Celestino V não era o homem do 'não', era o homem do 'sim'", enfatizou.
Além disso, Francisco refletiu sobre a importância de reconhecer a própria "miséria" para ir ao encontro de Deus. "O perdão é passar da morte para a vida, da experiência de angústia e culpa para a de liberdade e alegria", apontou.
No final de sua visita a L'Aquila, o Papa fez uma pausa em oração diante do túmulo de Celestino V, o primeiro Pontífice a renunciar ao cargo, em 1294, aos 80 anos.
O gesto de Jorge Bergoglio tem sido alvo de inúmeras especulações nos últimos meses, já que, em abril de 2009, Bento XVI depositou na Porta Santa o pálio - insígnia pessoal e de autoridade que lhe fora imposto no dia do início de pontificado -, sobre o relicário com os restos mortais de Celestino V.
Os rumores de uma possível renúncia do argentino, que completa 10 anos de pontificado em março de 2023, também ganharam força devido à sua saúde debilitada. Em 2021, Francisco foi submetido a uma cirurgia do cólon e atualmente está com mobilidade reduzida por causa de dores no joelho.
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