O embaixador da Ucrânia no Vaticano, Andrii Yurash, criticou o papa Francisco por ele ter lamentado a morte da jornalista e analista política russa Darya Dugina, vítima de um atentado a bomba nos arredores de Moscou no último fim de semana.
"O discurso de hoje do Papa foi decepcionante e me fez pensar em muitas coisas. Não se pode colocar na mesma categoria agressor e vítima, estuprador e estuprado", escreveu o diplomata no Twitter nesta quarta-feira (24).
"Como é possível mencionar uma das ideólogas do imperialismo russo como uma vítima inocente? Ela foi assassinada pelos russos como uma vítima sagrada e agora é um escudo de guerra", acrescentou.
Dugina, 29 anos, era filha do influente filósofo ultranacionalista Alexander Dugin, tido pela imprensa ocidental como uma das bases intelectuais para a deriva imperialista do regime de Vladimir Putin.
A jornalista foi vítima de uma bomba instalada no automóvel que ela dirigia - um Toyota Land Cruiser Prado em nome de Dugin - e acionada à distância. O crime ocorreu quando Dugina passava pelo vilarejo de Velyki Vyazomi, nos arredores de Moscou, voltando de um festival no qual ela e seu pai haviam sido convidados de honra.
A Rússia acusa os serviços secretos da Ucrânia de terem planejado o atentado, mas Kiev nega envolvimento no caso.
Em sua audiência geral nesta quarta, o papa Francisco mencionou brevemente a morte da jornalista e disse que "os inocentes pagam o preço da guerra". "Penso em uma pobre garota que voou no ar por causa de uma bomba sob seu banco no carro em Moscou", disse o líder católico, sem citar Dugina nominalmente.
"Os inocentes pagam o preço da guerra, os inocentes! Pensemos nessa realidade e digamos um para o outro: a guerra é uma loucura. E aqueles que ganham com a guerra e com o comércio de armas são delinquentes que assassinam a humanidade", acrescentou.
Essa não é a primeira vez que a Ucrânia entra em rota de colisão com Francisco. Na Via Crucis presidida pelo pontífice em abril passado, a programação oficial previa que uma ucraniana e uma russa lessem juntas uma reflexão sobre a guerra.
No entanto, após protestos da embaixada de Kiev na Santa Sé, o texto acabou cortado da celebração. Ainda assim, a ucraniana e a russa carregaram juntas a cruz em uma das estações da Via Crucis.
O Papa negocia uma possível visita a Kiev nas próximas semanas, mas já deixou claro que também gostaria de ir a Moscou para se reunir com o presidente Vladimir Putin e tentar promover um acordo de paz. (ANSA)
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