O historiador alemão Michael Feldkamp, que tem investigado os arquivos do Vaticano sobre o pontificado de Pio XII (1939-1958), afirmou que o Papa salvou pessoalmente "pelo menos 15 mil judeus" e tentou alertar sobre o Holocausto.
De acordo com Feldkamp, Pio XII enviou um relatório sobre o Holocausto aos Estados Unidos, em 1942, pouco depois da Conferência de Wannsee, na Alemanha, mas não recebeu resposta porque os americanos não acreditaram nele.
"Agora podemos corrigir muitas suposições vagas ou mesmo acusações contra o Papa e seu suposto silêncio", disse o especialista ao Vatican News.
Feldkamp, arquivista-chefe do Bundestag (a Câmara Baixa do Parlamento alemão), colabora com Johannes Ickx, arquivista do Vaticano, e tem analisado os documentos que ficaram acessíveis pela primeira vez em março de 2020.
Com base em seus estudos, "Pio XII enfrentou a perseguição dos judeus quase diariamente". "Todos os relatórios foram-lhe apresentados e ele estabeleceu o seu próprio escritório na segunda seção da Secretaria de Estado, onde o pessoal teve de lidar exclusivamente com esses assuntos", revelou.
"Eugenio Pacelli, ou seja, Pio XII, soube do Holocausto desde muito cedo", indica o autor, acrescentando que "em relação ao extermínio sistemático dos judeus da Europa, enviou uma mensagem ao presidente americano [Franklin] Roosevelt em março de 1942".
"Estas mensagens não foram consideradas credíveis pelos americanos", ressaltou.
No entanto, segundo o historiador, Pio XII "salvou pessoalmente cerca de 15 mil judeus através dos seus próprios esforços: abrindo mosteiros, transformando claustros para que as pessoas se pudessem esconder", entre outros.
Feldkamp relata que a Guarda Palatina Papal, uma espécie de "guarda-costas" do Papa se envolveu em combates com a Waffen-SS para "esconder judeus na basílica romana de Santa Maria Maggiore".
O historiador admitiu que "o problema do silêncio ainda está lá", mas entende que "agora pode ser considerado razoável", dado que Pio XII levou as pessoas a "esconder-se em operações secretas".
Pacelli é acusado de ter se omitido perante os horrores do Holocausto, especialmente por não ter condenado publicamente a matança de judeus na Segunda Guerra Mundial. Já o Vaticano alega que Pio XII promoveu uma diplomacia de bastidores para salvar o maior número possível de pessoas, inclusive abrigando judeus em igrejas e conventos na Itália.
"Ele não poderia chamar a atenção do público para si mesmo, organizando manifestações ou escrevendo notas de protesto, mas para desviar a atenção ele conduziu negociações com a embaixada alemã e as forças policiais italianas, mesmo com [Benito] Mussolini e o ministro das Relações Exteriores da Itália", aponta Feldkamp, explicando que o então Papa "sempre tentou obter o máximo possível por meio de negociações". (ANSA)
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