(ANSA) - Em sua primeira entrevista a um jornalista ocidental desde o início da guerra com a Ucrânia, em fevereiro de 2022, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou que uma derrota de seu país no conflito "é impossível".
A gravação da conversa com o repórter Turcker Carlson foi divulgada na noite da última quinta-feira (8) e mostra o líder russo respondendo perguntas sobre a invasão ao território ucraniano e retratando a Rússia como uma vítima.
"Houve alvoroço e clamor sobre infligir uma derrota estratégica à Rússia no campo de batalha, mas agora aparentemente estão percebendo que é difícil conseguir isso, se é que é possível. Na minha opinião, é impossível por definição", afirmou. "Nunca vai acontecer".
Além disso, Putin destacou que não tem interesse em expandir o conflito para outros países, como a Polônia e a Letônia. Segundo ele, uma invasão nos dois países está fora de questão.
O conflito no território ucraniano alimentou receios entre os países bálticos de que Moscou também pudesse invadi-los. "Só num caso eu enviaria tropas, se a Polônia atacasse a Rússia. Não temos interesse na Polônia, na Letônia ou em qualquer outro lugar. Isso está absolutamente fora de questão", afirmou o líder russo.
Durante a conversa, ele também disse acreditar ser possível fechar um acordo para libertar o jornalista norte-americano Evan Gershkovich, do Wall Street Journal, que foi preso na Rússia no ano passado sob acusação de espionagem.
O líder do Kremlin destacou ainda que o governo dos Estados Unidos deve parar de fornecer ajuda militar à Ucrânia. "Vou dizer o que estamos dizendo sobre este assunto e o que estamos transmitindo aos líderes americanos. Se realmente querem parar de lutar, devem parar de fornecer armas", acrescentou.
A entrevista com Carlson foi realizada em Moscou na última terça-feira e transmitida pelo tuckercarlson.com. De acordo com o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, "dezenas" de jornais ocidentais, inclusive dos EUA e da Itália, solicitaram "nos últimos três ou quatro dias" uma entrevista com o presidente russo após o anúncio do jornalista americano.
"Os pedidos vieram entre outras coisas, dos EUA, França, Itália, Áustria e Austrália. Estamos gratos a estes meios de comunicação estrangeiros pelo seu interesse no nosso presidente e, embora por razões óbvias seja impossível fazê-lo agora, manteremos todos estes pedidos em mente para o futuro", concluiu o porta-voz.
Após 14 horas, a entrevista de Carlson com Putin ultrapassou 100 milhões de visualizações na plataforma X (antigo Twitter) e recebeu mais de 708 mil curtidas. Ao todo, o vídeo foi compartilhado aproximadamente 226 mil vezes.
No entanto, a entrevista foi duramente criticada pelo governo da Ucrânia, país invadido pelas tropas russas desde fevereiro de 2022.
"Qualquer conversa/entrevista com a entidade Putin é uma tentativa indiscutível de legalizar as regras do canibal russo", afirmou o conselheiro presidencial ucraniano, Mykhailo Podolyak, no X, enfatizando que a tentativa de Putin "de justificar o genocídio dos ucranianos faz da guerra nada mais do que a própria guerra, e certamente não traz a Rússia de volta à civilização".
Já uma porta-voz da Comissão Europeia reforçou que "Vladimir Putin não disse nada de novo em sua entrevista com Tucker Carlson", apenas "repetiu velhas mentiras sobre a Ucrânia, mentiras perigosas que causaram enorme sofrimento aos ucranianos, e mostrou grande hostilidade para com o Ocidente".
"Putin mostrou mais uma vez que não está interessado na paz. Se realmente quisesse, poderia retirar as tropas russas das fronteiras internacionalmente reconhecidas da Ucrânia", concluiu.
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