(ANSA) - A passagem de Rafah entre Gaza e o Egito permanece fechada neste domingo (5) para a saída de estrangeiros e cidadãos com dupla nacionalidade.
Fontes locais relataram que o Hamas condicionou a reabertura da passagem à saída de feridos palestinos da parte norte da Cidade de Gaza.
No entanto, a passagem continua em funcionamento para a entrada de ajuda humanitária internacional.
No sábado (4), havia a expectativa de liberação de cerca de 800 estrangeiros ou pessoas com dupla nacionalidade, entre egípcios, americanos, britânicos, franceses e alemães.
No entanto, a liberação foi adiada depois que Israel admitiu ter atingido ambulâncias com ataques em Gaza.
"Bomba atômica"
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, suspendeu o ministro da Tradição Judaica, Amichay Eliahu, de todas as sessões do governo.
O motivo foi uma declaração do ministro, que afirmou que uma bomba atômica em Gaza “seria uma das possibilidades”, ainda que isso colocasse em risco a vida dos 240 reféns israelenses, porque "as guerras têm seu preço".
Netanyahu afirmou que as palavras de Eliahu eram ultrajantes e fora da realidade, enfatizando que as forças israelenses operam de acordo com o direito internacional para evitar atingir inocentes.
Logo depois, Eliahu e o líder de seu partido de extrema-direita, Itamar Bem Gvir, disseram que “era apenas uma metáfora”.
O Ministério das Relações Exteriores da Autoridade Nacional Palestina classificou as falas como “declarações bárbaras e racistas provenientes de um ministro fascista”.
Segundo o ministério, essas palavras foram proferidas por "um parceiro na coalizão de governo de Benjamin Netanyahu" e confirmam que Israel tem estado envolvido em "uma guerra genocida" em Gaza nos últimos 30 dias.
Mortes em Gaza
O balanço de vítimas em Gaza desde que Israel começou a atacar a Faixa de Gaza em retaliação aos ataques de 7 de outubro, realizados por militantes do Hamas, subiu para 9.770.
O dado foi divulgado neste domingo pelo Ministério da Saúde palestino, dos quais pelo menos 4,8 mil são menores de idade.
Defesa de Israel
O Exército de Israel afirmou que os residentes de Gaza poderão ser evacuados ao longo de estradas específicas neste domingo (5).
Segundo a Defesa, a permissão foi dada apesar de as tropas terem sido alvo ataques no dia anterior enquanto tentavam estabelecer um corredor para civis.
O exército israelense alega que o Hamas está se escondendo em uma rede intricada de túneis enquanto impede os civis de se refugiarem no sul de Gaza. Eles afirmam ter descoberto vários pontos de acesso aos túneis durante as operações no norte de Gaza.
Além disso, informaram que mais de 2,5 mil alvos terroristas foram atingidos na Faixa de Gaza desde o início das operações, incluindo ataques por terra, mar e ar.
Segundo o porta-voz militar, as tropas continuam eliminando terroristas em combates de curta distância e realizando ataques aéreos contra as infraestruturas do Hamas, depósitos de armas, postos de observação e centros de comando e controle na Faixa de Gaza.
O ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro também teria contado com “combatentes estrangeiros”. É o que acreditam os agentes de segurança israelenses, segundo a televisão pública Kan, após os interrogatórios dos prisioneiros capturados no campo de conflito.
Os combatentes, segundo a emissora, falavam árabe com sotaque diferente do de Gaza, mais semelhante ao dos países do norte da África.
Diferentemente do que foi aventado no país, porém, não haveria entre eles falantes de farsi ou alguém que parecesse ser originário do Irã.
Blinken e Abbas
O presidente palestino Mahmoud Abbas, em seu encontro com o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, pediu "a suspensão imediata da devastadora guerra e o aumento da entrega de ajuda humanitária, incluindo medicamentos, alimentos, água, eletricidade e combustível para Gaza".
Ele acrescentou: "Estamos nos encontrando novamente em circunstâncias extremamente difíceis, e não há palavras para descrever a guerra de genocídio e destruição que nosso povo palestino em Gaza está enfrentando pelas mãos da máquina de guerra israelense, sem respeito às regras do direito internacional".
"Como podemos ficar em silêncio sobre o assassinato de 10 mil palestinos, incluindo 4 mil crianças, dezenas de milhares de feridos e a destruição de dezenas de milhares de residências, infraestruturas, hospitais, centros de acolhimento e reservatórios de água?", questionou.
"O que está acontecendo na Cisjordânia e em Jerusalém não é menos terrível em termos de assassinatos e ataques a terras, pessoas e locais sagrados, pelas mãos das forças de ocupação e dos colonos terroristas, que cometem crimes de limpeza étnica, discriminação racial e a apropriação indébita de fundos", disse ainda.
Abbas também alertou contra "o deslocamento de nosso povo palestino fora de Gaza, Cisjordânia ou Jerusalém". "Nós rejeitamos categoricamente", disse.
Já Blinken pediu que seja impedida a “violência extremista” contra os palestinos na Cisjordânia, e disse que os moradores da Faixa de Gaza não devem ser deslocados por uso da força.
Irã
O ministro da Defesa do Irã alertou que os Estados Unidos serão "severamente atingidos" se não houver um cessar-fogo em Gaza.
A informação foi divulgada pela agência de notícias Tasnim no Telegram.
"Nosso conselho aos americanos é que parem imediatamente a guerra e implementem um cessar-fogo, caso contrário, vocês serão severamente atingidos", disse o ministro Mohammad Reza Ashtiani.
UE
O poder Executivo da União Europeia manifestou solidariedade à comunidade hebraica neste domingo (5).
“O pico de incidentes de antissemitismo em toda a Europa atingiu níveis extraordinários nos últimos dias, lembrando alguns dos períodos mais sombrios da história. Os judeus europeus ainda vivem com medo hoje”, disse a Comissão Europeia, em comunicado.
"Nestes tempos difíceis, a UE está ao lado de suas comunidades judaicas. Condenamos veementemente esses atos repugnantes. Eles vão contra tudo o que a Europa representa", concluiu Bruxelas.
Papa
"Eu imploro que parem em nome de Deus: cessem o fogo”. Essas foram as palavras do papa Francisco durante a oração do Angelus neste domingo (5) ao falar sobre a situação em Israel e na Palestina, pedindo que "se evite a expansão do conflito".
Ele lembrou a gravidade da situação em Gaza, afirmando: "Que os reféns sejam libertados, incluindo as muitas crianças."
O pontífice expressou preocupação com todas as crianças envolvidas na guerra e pediu que "oremos para que tenhamos a força de dizer basta".
Ele continuou dizendo que "continua a pensar na grave situação na Palestina e em Israel, onde muitas pessoas perderam a vida”: “Imploro que parem em nome de Deus: cessem o fogo! Espero que todas as vias sejam percorridas para evitar absolutamente a expansão do conflito”.
“Que os feridos sejam socorridos e que a ajuda chegue à população de Gaza, onde a situação humanitária é gravíssima. Libertem imediatamente os reféns, incluindo as muitas crianças, para que possam retornar às suas família.”
“Pensemos nas crianças, em todas as crianças envolvidas nesta guerra, assim como na Ucrânia e em outros conflitos, pois estamos matando o futuro delas”, concluiu Francisco.
ONU
Quase 1,5 milhão de pessoas em Gaza foram deslocadas de suas residências. Destas, 710,2 mil encontraram abrigo em 149 instalações da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (Unrwa), 122 mil pessoas estão em hospitais, igrejas e edifícios públicos, 109,7 mil pessoas se refugiaram em 89 escolas, e outras residem com famílias que as hospedaram.
Os dados foram fornecidos pelo Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários.
"As condições de superlotação continuam a criar sérios riscos para a saúde. Danos às infraestruturas de água e saneamento e a disponibilidade limitada de combustível para bombear água criam riscos adicionais para a saúde pública. Vários casos de infecções respiratórias agudas, diarreia e catapora já foram relatados entre as pessoas nos abrigos da Unrwa”, diz o comunicado.
“Cerca de 530 mil pessoas encontraram refúgio em 92 instalações da Unrwa nos governos do sul nas áreas de Deir Al Balah, Khan Younis e Rafah: os abrigos ultrapassaram sua capacidade e não conseguem acomodar novos chegados. Muitos deslocados buscam segurança dormindo nas ruas", concluiu a ONU.
Jornalistas
Pelo menos 36 jornalistas e profissionais de mídia estão entre as milhares de pessoas mortas em Gaza desde o início do conflito em 7 de outubro, de acordo com o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), citado pela Sky News.
Segundo a organização sediada em Nova York, a guerra entre Israel e o Hamas se tornou o período mais mortal para repórteres que cobrem conflitos desde que o CPJ começou a documentar as vítimas entre jornalistas em 1992.
No último relatório, o CPJ afirma que dos 36 mortos, 31 são palestinos, quatro são israelenses e um é libanês.
Oito jornalistas ficaram feridos, três estão desaparecidos e outros oito foram presos.
Sherif Mansour, coordenador do programa do grupo para o Oriente Médio e Norte da África, declarou que os jornalistas "estão fazendo grandes sacrifícios para cobrir este conflito devastador".
"Muitos perderam colegas, familiares e instalações de mídia e fugiram em busca de segurança quando não há abrigo ou saída segura", disse ele.
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