(ANSA) - Militares do Níger anunciaram na quarta-feira (26), em uma transmissão de televisão, a derrubada do governo do presidente Mohamed Bazoum.
A declaração do Conselho Nacional para a Salvaguarda da Pátria (CNSP), que é a Guarda Presidencial do país, foi lida pelo coronel-major Amadou Abdramane, cercado de outros nove oficiais.
"Nós, as forças de defesa e segurança reunidas no centro do CNSP, decidimos pôr fim ao regime. O motivo é a deterioração contínua da situação da segurança e a má gestão econômica e social", disse.
O militar ainda afirmou que as instituições nacionais estão suspensas e que as fronteiras aéreas e terrestres foram fechadas. Também foi instituído um toque de recolher em todo o território nacional, entre 22h e 5h.
Posteriormente, a declaração foi apoiada pelo chefe do Estado-Maior do Exército do país, general Abdou Sidikou Issa.
O Níger, país desértico na África Ocidental, já sofreu quatro golpes de Estado desde que conquistou a independência da França, em 1960, sendo o último deles em 2010.
Mohamed Bazoum, no entanto, foi eleito democraticamente e estava no poder desde 2021.
O anúncio da deposição foi feito após um dia de tensões na capital nigerina, Niamei, onde o mandatário foi detido pela Guarda Presidencial.
O ministro das Relações Exteriores do país disse em entrevista à emissora France 24 que o presidente está bem e negou a legitimidade do golpe.
"O poder legal e legítimo é o exercido pelo presidente eleito Mohamed Bazoum", afirmou Hassoumi Massodou, acrescentando que o líder ainda está sob custódia dos militares.
A comunidade internacional condenou o golpe e pediu a libertação imediata do presidente.
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, disse através de um porta-voz que "condena firmemente a mudança inconstitucional de governo e pede o fim imediato de todas as ações que minam os princípios democráticos no Níger".
A ONU também suspendeu suas operações humanitárias no país.
Segundo o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha), o número de pessoas que precisam de ajuda humanitária no Níger aumentou de 1,9 milhão em 2017 para 4,3 milhões em 2023.
O órgão informou também que o número de pessoas atingidas por grave insegurança alimentar no país deve chegar a 3 milhões até agosto - entre junho e agosto o país passa pela chamada "estação de escassez", período entre o fim das reservas agrícolas e o início da colheita seguinte.
O Ministério das Relações Exteriores da Itália disse, através do Twitter, que está monitorando a evolução da situação e que há 170 italianos no país africano. "A Embaixada está operando, e um gabinete de crise foi ativado", diz a publicação.
O padre missionário italiano Mauro Armanino contou à agência de notícias do Vaticano que a situação nas ruas do Níger está calma.
"Alguns feridos foram levados ao hospital após tiros da Guarda Presidencial para desencorajar os que estavam se manifestando perto da residência oficial do presidente. As ruas têm menos trânsito, também porque houve uma tempestade de areia seguida de um temporal", relatou.
Segundo ele, os militares declararam a dissolução dos partidos políticos de oposição.
O secretário de Estado americano, Anthony Blinken, disse que falou ao telefone com Mohamed Bazoum e pediu que a democracia do país seja restabelecida: "A forte parceria econômica e de segurança entre os EUA e o Níger dependem da continuidade do governo democrático e do respeito ao Estado Democrático de Direito e aos direitos humanos".
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS © Copyright ANSA