Ela se "sentiu tratada como um cão" e agora "tem medo" de fazer a denúncia. É assim que afirma estar a transexual brasileira agredida por quatro agentes da Polícia Local de Milão, alvo de cassetetes e chutes e, por fim, imobilizada com spray de pimenta.
Uma cena que ocorreu na manhã desta quarta-feira (24) perante os olhos de alguns estudantes da Universidade Bocconi que, incrédulos e indignados, gravaram com seus celulares e postaram nas redes sociais. Trata-se do vídeo chocante que provocou uma chuva de polêmicas, dividiu a política e indignou internautas.
Será fundamental a denúncia por parte da brasileira de 41 anos, sem-teto e com pequenos precedentes, para que as investigações, coordenadas pelos procuradores de Milão, Marcello Viola e Tiziana Siciliano (adjunta), possam acabar em um eventual processo.
A vítima, com base na reforma judicial Cartabia, tem até 90 dias para apresentar a denúncia. Caso contrário, a investigação será fechada com uma declaração de improcedência. Para ajudá-la, também está se movimentando o consulado do Brasil.
O dia depois da agressão, enquanto a vítima contou que foi agredida e que "só a mulher policial foi gentil" com ela, os investigadores estão caminhando para recolher os testemunhos e outros elementos e para ter o quadro mais preciso do que aconteceu. E isso, para depois de todos os procedimentos, avaliar as responsabilidades dos quatro agentes envolvidos na abordagem.
A Procuradoria, até o momento, tem três depoimentos: um do comandante dos vigilantes urbanos de Milão, Marco Ciacci, com o qual teve uma reunião operacional, um de uma das agentes que ontem estava perto do parco Trotter e que alertou, dando o sinal, os colegas para a presença de uma mulher que estaria molestando, e um dos agentes filmados.
Além disso, está em andamento as análises dos vídeos das câmeras de segurança das diversas áreas da cidade nas quais os fatos ocorreram, e estão sendo convocadas testemunhas que se unirão aos depoimentos já tomados.
Hoje, a trans brasileira contou sua versão não aos procuradores, mas a alguns jornalistas. "Tinha medo que eles me batessem mais. Me escondi atrás de um canteiro de flores, mas eles me acharam", disse.
Quanto a denúncia, essencial para não parar a apuração, explicou que provavelmente vai fazê-la. "É uma história feia, tenho medo que me aconteça alguma coisa se falar demais", acrescentou.
A brasileira negou que tivesse tirado a roupa e admitiu que estava alterada. "Sou um tipo muito agitado, bebi na noite anterior e tinha fumado um baseado. Mas, não fiz nada de mal para ninguém, não agredi ninguém", afirmou.
Ainda disse que estava "sentada e levantei os braços pedindo para eles não me agredirem". "Ao invés disso, deram golpes na minha cabeça, do lado, na minha cabeça de novo. Me senti tratada como um cão. Pedi para não me baterem, só a mulher agente foi gentil comigo", pontuou.
E o caso, nesta quinta, fez com que o prefeito de Milão, Giuseppe Sala, se manifestasse novamente. "O assunto verdadeiro é que nas cidades do mundo têm muitos problemas, tantas pessoas pouco equilibradas e muitas situações delicadas. Essa é uma questão que se fala pouco. Fala-se muito de imigração e pouco de quantas pessoas problemáticas estão andando por aí", ressaltou.
Sala ainda afirmou que "isso é algo no qual o Estado precisa ter vontade de trabalhar porque esse é um problema que está crescendo e é perceptível".
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