(ANSA) - Os eleitores da Venezuela aprovaram neste domingo (3) a criação de um novo estado em Essequibo, região da Guiana rica em petróleo e que é reivindicada por Caracas.
Em referendo popular, os votantes também rejeitaram a jurisdição da Corte Internacional de Justiça, tribunal ligado à ONU, para resolver a disputa territorial.
Ao todo, os eleitores tiveram de se posicionar sobre cinco perguntas, e em todas elas o "sim" venceu com mais de 95% dos votos, segundo o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), que acrescentou que mais da metade das pessoas com direito a voto participaram da consulta.
O mais controverso era o quinto quesito, que perguntava se o votante concordava com a criação do estado de Guiana Essequiba em uma área que compreende mais de 70% do território da Guiana e sua incorporação pela Venezuela.
95,93% dos eleitores disseram "sim" à proposta, inclusive com apoio de boa parte da oposição ao chavismo.
"Com a esmagadora vitória no referendo sobre Essequibo, demos os primeiros passos em uma nova etapa histórica", celebrou o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro.
"Essa é uma derrota do governo da Guiana e da empresa ExxonMobil, que explora ilegalmente recursos petrolíferos", acrescentou o mandatário.
O território de Essequibo é reivindicado pela Venezuela desde meados do século 19, mas a Guiana, que o controla desde 1841, se apoia em um documento de 1899 que formalizou as fronteiras atuais.
Caracas, por sua vez, acusa o país vizinho de ignorar um acordo de 1966 para resolver a disputa por meio de um diálogo bilateral.
O presidente da Guiana, Mohamed Irfaan Ali, minimizou o resultado do referendo e disse que os cidadãos do país "não têm nada com que se preocupar", acrescentando que o governo trabalha para garantir que as fronteiras "sigam intactas".
Brasil
O assessor especial para assuntos internacionais do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Celso Amorim, expressou preocupação diante de uma possível escalada militar entre Venezuela e Guiana após o referendo convocado pelo governo Maduro.
"Eu acho perigoso você misturar uma política eleitoral, ou mesmo que não só eleitoral. Não estou entrando no mérito nem na justiça do pedido venezuelano, mas é uma pretensão de natureza jurídica, histórica, com a mobilização da opinião popular", afirmou o ex-chanceler ao jornal Valor Econômico.
"Acredito que não é a intenção do presidente Maduro tomar uma medida militar agressiva, de ataque mesmo. Mas, às vezes, essas questões saem do controle. Às vezes, até alguém que hoje está na oposição pode usar isso", acrescentou Amorim.
O assessor disse que o governo Lula quer ter "boas relações com a Venezuela e a Guiana", que também poderia "tomar medidas que não interessam", como "chamar tropas de outros países para ajudá-la na eventualidade de uma invasão".
Em sua viagem aos Emirados Árabes, o presidente brasileiro manifestou preocupação com o risco de um conflito entre Venezuela e Guiana, dois países que fazem fronteira com o estado de Roraima. (ANSA)
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