(ANSA) - A primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, estreou no púlpito da Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), em Nova York, e pediu que a organização declare uma "guerra global" contra os traficantes de seres humanos.
A premiê discursou na noite desta quarta-feira (20), enquanto seu país enfrenta o agravamento da crise migratória no Mar Mediterrâneo Central, especialmente na ilha de Lampedusa, principal porta de entrada para deslocados internacionais na União Europeia.
"Estou convencida de que é dever desta organização rejeitar qualquer hipocrisia sobre esse tema e declarar uma guerra global e sem descontos contra os traficantes de seres humanos. E, para fazê-lo, devemos trabalhar juntos em todos os níveis", disse Meloni.
Segundo a primeira-ministra, uma "certa abordagem hipócrita sobre a imigração fez enriquecer essa gente de forma desmedida".
"Os traficantes de seres humanos que organizam a exploração da imigração ilegal em massa iludem que, confiando neles, quem quer migrar encontrará uma vida melhor. Eles cobram milhares de dólares por viagens para a Europa, que vendem como se fossem agências de turismo. Mas eles não dizem que essas viagens frequentemente conduzem a um túmulo no fundo do Mar Mediterrâneo", acrescentou.
Segundo o Ministério do Interior da Itália, o país já recebeu 132,3 mil migrantes forçados via Mediterrâneo em 2023, quase o dobro do número registrado no mesmo período do ano passado. A maioria dessas pessoas é proveniente de países da África, como Guiné, Costa do Marfim, Tunísia, Egito, Burkina Fasso, Mali e Camarões.
Em meio a esse cenário, Meloni vem prometendo desde o início de seu governo um amplo programa de investimentos no continente africano, o "Plano Mattei", batizado em homenagem ao fundador da gigante italiana de óleo e gás ENI, Enrico Mattei.
"Seremos os primeiros a dar o bom exemplo com o Plano Mattei para a África", garantiu a premiê, acrescentando que a iniciativa terá duas frentes: "derrotar os traficantes de escravos do terceiro milênio e enfrentar as causas na base da migração, com o objetivo de garantir o primeiro dos direitos, que é o de não precisar emigrar".
A primeira-ministra ainda denunciou a existência de uma "abordagem predatória e paternalista" em relação à África e que "frequentemente as intervenções das nações estrangeiras no continente não foram respeitosas com as realidades locais". "A Itália quer contribuir para criar um modelo de cooperação capaz de colaborar com as nações africanas para que elas possam prosperar com os recursos que possuem. Uma cooperação de igual para igual, porque a África não precisa de caridade", disse.
Durante seu discurso, Meloni também defendeu uma reforma no Conselho de Segurança da ONU para torná-lo mais "representativo, transparente e eficaz, com uma distribuição geográfica dos assentos mais equilibrada, saindo da configuração cristalizada no êxito de um conflito encerrado há 80 anos, em outro século, outro milênio, para dar a todos a possibilidade de demonstrar o próprio valor no presente".
Além disso, afirmou que o mundo precisa "rejeitar a teoria utópica de quem diz que um mundo sem nações, sem fronteiras e sem identidade seria sem conflitos", e criticou a "guerra neoimperialista" da Rússia na Ucrânia.
"Cabe a cada um de nós decidir de que lado da história estar. A escolha é entre a nação e o caos, entre a razão e a prevaricação. A Itália escolheu claramente de que lado estar porque está ciente de como seria difícil governar um mundo no qual leva a melhor quem bombardeia as infraestruturas civis esperando render um povo com o frio e o escuro, que usa a energia como arma e chantageia as nações em desenvolvimento, impedindo a exportação de grãos, matéria-prima indispensável para matar a fome de milhões de pessoas", declarou Meloni, em referência à Rússia. (ANSA)
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