(ANSA) - O candidato a presidente do Equador Fernando Villavicencio, de 59 anos, foi assassinado a tiros após um comício na capital Quito na última quarta-feira (9), a apenas 11 dias das eleições.
Um vídeo mostra Villavicencio saindo de uma escola e levando três disparos logo após entrar em um carro, mesmo estando sob escolta policial. O atentado também deixou outras nove pessoas feridas, incluindo dois policiais e uma candidata ao Parlamento. Além disso, a sede do partido do presidenciável, o Movimento Constrói, foi atacada por homens armados.
O presidente conservador Guillermo Lasso, que não é candidato à reeleição, disse ter ficado "indignado" e "chocado" com o assassinato de Villavicencio. "Minha solidariedade e condolência à sua mulher e às suas filhas. Por respeito à sua memória e às suas batalhas, garanto que esse crime não ficará impune", acrescentou.
Lasso atribuiu o homicídio ao "crime organizado". "Mas todo o peso da lei cairá sobre eles", prometeu.
O governo equatoriano também declarou estado de exceção no país, com a mobilização das Forças Armadas para garantir a segurança em todo o território nacional, mas manteve a data das eleições para 20 de agosto.
Enquanto isso, a Procuradoria-Geral anunciou a prisão de seis suspeitos de envolvimento no assassinato e a morte de outro em uma troca de tiros com a polícia.
A candidata favorita nas pesquisas, Luisa González, do Movimento Revolução Cidadã (RC), partido do ex-presidente Rafael Correa, manifestou sua "indignação" e disse que a morte de Villavicencio é "um luto para todos".
Já o postulante do movimento indígena Yaku Pérez, afirmou que o Equador "não merece mais nenhuma morte". "É o momento de nos unirmos para recuperar a paz", reforçou. Por sua vez, o candidato de centro-direita Otto Sonnenholzner declarou que "o país escapou da mão" do governo". Todos eles suspenderam suas campanhas.
As eleições presidenciais acontecerão em meio a uma grave crise de segurança provocada pelo fortalecimento dos cartéis de drogas no país. O próprio Villavicencio denunciou recentemente que havia recebido ameaças de morte por parte do narcotraficante José Adolfo Macías Villamar, conhecido como "Fito".
Ex-dirigente sindical na estatal petrolífera Petroecuador, ele também atuou como jornalista, período em que publicou denúncias contra o narcotráfico e a elite política, e foi deputado entre maio de 2021 e maio de 2023.
Segundo uma pesquisa eleitoral divulgada em 5 de agosto, Gonzáles lidera a disputa com 30,5% das intenções de voto, seguida pelo empresário outsider Jan Topic (13,1%) e por Pérez (7,7%). Villavicencio era o quarto colocado, com 6,8%.
Reivindicação
A facção criminosa "Los Lobos" ("Os Lobos"), ligada ao poderoso cartel de narcotraficantes de Jalisco, no México, reivindicou a autoria do homicídio de Fernando Villavicencio.
Em um vídeo divulgado nas redes sociais, o grupo também ameaça outros políticos equatorianos, incluindo o presidenciável Jan Topic.
A gravação exibe diversos homens encapuzados e armados, enquanto um deles lê um comunicado no qual adverte que tomará medidas contra "políticos corruptos" que não mantiverem suas promessas.
"Nós, Los Lobos, assumimos a responsabilidade pelos fatos de hoje, e isso voltará a se repetir quando os corruptos não cumprirem sua palavra. Você também, Jan Topic, cumpra sua palavra. Se não cumprir suas promessas, Jan Topic, você será o próximo", afirma o grupo.
As autoridades equatorianas, no entanto, ainda não confirmaram a autenticidade da reivindicação.
UE e Itália
A União Europeia condenou nesta quinta-feira (10) o assassinato de Villavicencio e disse que esse "trágico ato de violência é um ataque às instituições e à democracia do Equador".
"Os autores e organizadores desse crime atroz devem ser levados à justiça", afirmou em nota o alto representante da UE para Política Externa, Josep Borrell, reforçando que os outros candidatos precisam de "fortes medidas de proteção" para "garantir um processo eleitoral democrático e livre".
"A UE reitera seu pleno compromisso de apoiar a democracia equatoriana e contribuir com os esforços para garantir eleições democráticas pacíficas", declarou o chefe da diplomacia europeia.
Uma missão de observadores do bloco já está no país latino para acompanhar o processo eleitoral. "A UE apoia o Equador em sua luta contra o agravamento da violência por parte do crime organizado e continuará cooperando com as autoridades equatorianas para enfrentar esse enorme desafio", concluiu Borrell.
Já o vice-premiê e ministro das Relações Exteriores da Itália, Antonio Tajani, definiu o crime como um "vil assassinato" que representa um "duro golpe na vida democrática do país".
"Expressamos proximidade à família e pleno apoio às autoridades do Equador para que se jogue luz sobre o atentado", acrescentou Tajani nas redes sociais. (ANSA)
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