A trajetória até a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro no Tribunal Superior Eleitoral parece agora traçada. Já três juízes, em sete, se pronunciaram pela inelegibilidade do ex-chefe de Estado.
E para formar a maioria destinada a cortar o líder soberano da vida política do país por oito anos, falta apenas um. O presidente do Tribunal, Alexandre de Moraes, adiou o julgamento para amanhã ao meio-dia (hora local), e salvo uma reviravolta - como o pedido de vista, que pode estender o prazo em dois meses -, em breve a direita se verá diante de um vazio de liderança, destinado a remodelar sua geografia.
A acusação contra o ex-chefe de Estado é de abuso de poder e uso distorcido da mídia para fins eleitorais. Mas o episódio do encontro com os embaixadores de 18 de julho de 2022, que levou Bolsonaro ao banco dos réus, tornou-se agora apenas uma oportunidade para explorar suas responsabilidades nas tramas conspiratórias que transformaram o Brasil em um campo minado nos meses iniciais do ano, com o ataque da ultradireita aos Palácios da Democracia em 8 de janeiro, em Brasília.
O tom dos ministros que se manifestaram pela sentença na terceira audiência - Floriano de Azevedo e André Ramos Tavares - foi menos áspero do que o do relator do processo, Benedito Gonçalves, o primeiro a votar contra o ex-presidente, na sessão da última terça-feira, na qual acusou Bolsonaro de "conspiração", de ter "flertado perigosamente com o golpe", de ter empurrado seus apoiadores para "uma paranoia coletiva" e de espalhar "notícias falsas".
Mas Azevedo e Ramos Tavares também não podiam deixar de concordar com a "gravidade" da atuação do líder soberano. O único a votar contra a condenação do ex-chefe de Estado foi o ministro Raul Araújo, que também manifestou o desejo de excluir dos autos o documento golpista encontrado na casa do ex-ministro bolsonarista Anderson Torres, usado por Gonçalves em sua análise, justamente para acentuar o caráter conspiratório das iniciativas do ex-presidente.
Por outro lado, esperava-se uma postura mais branda de Araújo, uma vez que o juiz já havia demonstrado simpatia por escolhas de direita no passado.
Além disso, segundo relatos, nos últimos dias Araújo e Nunes Marques (que votarão amanhã) têm sofrido pressões de aliados do ex-presidente, com pedido de acionamento do mecanismo de revisão, o que tornaria o processo mais lento por alguns meses, ganhando tempo para o ex-chefe de Estado.
Em particular, as esperanças dos bolsonaristas agora se voltam para Marques, o único ministro indicado para o Tribunal pelo ex-presidente. A sessão de amanhã será retomada com o voto de Cármen Lúcia, seguida de Marques, e do presidente Moraes. E, caso não seja concluído nesta semana, o julgamento ainda seria adiado para agosto, devido às férias de inverno do setor judiciário, por todo o mês de julho.
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS © Copyright ANSA