Uma luta de facas, uma troca de ofensas sem limites. O último debate na TV Globo entre os candidatos à presidência no Brasil foi a representação da atmosfera no país, onde os apoiadores dos dois principais candidatos - o líder de esquerda Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o atual presidente de extrema direita, Jair Bolsonaro (PL) - se enfrentam até a morte e onde, com a abertura das urnas em 2 de outubro se aproximando, cresce o medo da violência a qual poderia comprometer o desejo de "renascimento".
O resultado da eleição é esperado já na noite de domingo. A última pesquisa divulgada pelo Datafolha na noite da última quinta-feira (29) abre a possibilidade de vitória de Lula já no primeiro turno, com 50%. Bolsonaro, por sua vez, persegue à distância, com 36%.
Mas em uma campanha eleitoral envenenada, onde as notícias falsas estão na ordem do dia, até o nível de confiabilidade das intenções de voto é um ponto de interrogação.
Em vez disso, o que está ficando cada vez mais claro é como o atual mandatário não está pronto para reconhecer a vitória de seu oponente. Bolsonaro continua recitando seu mantra: diz ter certeza da reeleição; ele ataca o sistema de votação eletrônica do país, levantando suspeitas sobre possível manipulação de documentos e teorias da conspiração; ataca o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), coração do processo de apuração; e faz recomendação aos militares.
Assim, enquanto os apelos em defesa da democracia chegam de todo o mundo, muitos especialistas não escondem a preocupação de que Bolsonaro esteja preparando o terreno para um Capitólio ao "molho brasileiro".
Por outro lado, a Bovespa, a Bolsa de Valores de São Paulo, parece já ter absorvido e aceitado a vitória de Lula e sua receita econômica: fortes investimentos em infraestrutura e mudanças nos modelos de consumo e produção de energia. A redução do custo do crédito e a construção de um novo regime tributário que permita ao governo aumentar os gastos públicos e sociais, para um país que no pós-pandemia atingiu novos picos de fome apesar dos bons índices de desemprego e subsídios de Auxilio Brasil - os 600 reais por mês lançados por Bolsonaro - para apoiar as famílias mais pobres.
As organizações ambientalistas, por outro lado, seguem em alerta, convencidas de que uma das grandes apostas desta eleição é também a proteção da Amazônia e de seus povos.
A ONG Greenpeace ataca Bolsonaro por suas políticas em favor de grandes latifundiários e garimpeiros, muitas vezes instigadores de incêndios e assassinatos, que se multiplicaram exponencialmente sob o mandato do ex-capitão do Exército, e pede que a votação de domingo seja uma escolha "sem hesitação" da esquerda, enquanto 171 candidatos de comunidades indígenas entraram em campo para ocupar cargos estaduais ou federais, determinados a virar a página do que - na opinião deles - foram quatro anos catastróficos.
Um desejo de mudança de ritmo também nas políticas de direitos é demonstrado pela candidatura de 281 expoentes da comunidade LGBTQIA+ (também neste caso para cargos políticos locais).
Este é o maior número de todos os tempos, porque embora a homofobia e a transfobia sejam consideradas crimes, o casamento entre pessoas do mesmo sexo seja permitido e casais de gays e lésbicas possam adotar crianças, a tolerância no país é baixa.
E fora das grandes cidades, onde a cultura machista e as igrejas evangélicas ultraconservadoras que apoiam Bolsonaro ainda têm grande influência, há episódios de violência contra pessoas LGBTQIA+.
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