O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, aproveitou seu discurso na Assembleia Geral da ONU, em Nova York, nesta terça-feira (24) para alertar que o Líbano não pode ser a nova Faixa de Gaza.
Em uma dura crítica a Israel e aplaudido durante sua intervenção, o diplomata condenou a situação no enclave palestino e o sofrimento do povo local desde o início da guerra entre Israel e Hamas, em 7 de outubro de 2023.
Para ele, "Gaza é um pesadelo permanente que ameaça levar consigo toda a região" e "a comunidade internacional deve mobilizar-se para um cessar-fogo imediato, para a libertação imediata e incondicional de todos os reféns e o início de um processo irreversível rumo a uma solução de dois Estados".
"O povo libanês, o povo de Israel e os povos do mundo não podem permitir que o Líbano se torne outra Gaza", declarou ele.
Guterres acrescentou ainda que "nada pode justificar os abomináveis atos de terror cometidos pelo Hamas em 7 de outubro, ou a tomada de reféns" - ambas situações que condenou repetidamente - e nada pode justificar a punição coletiva do povo palestino".
"A velocidade e a escala da matança e da destruição em Gaza não têm paralelo nos meus anos como secretário-geral da ONU", afirmou.
Em seu discurso, o português também denunciou "a discriminação e o abuso com base no gênero", que provocam a "desigualdade mais generalizada em todas as sociedades, e lamentou ver que, apesar de anos de bons discursos, a desigualdade de gênero ainda hoje se manifesta plenamente neste fórum".
"Estou triste por ver que, apesar de anos de conversa, a desigualdade de gênero está plenamente exposta nesta mesma sala.
Menos de 10% dos oradores no debate geral desta semana são mulheres", acrescentou.
Guterres reforçou ainda que, "se olharmos para os 75 países mais pobres do mundo, um terço deles está hoje numa situação pior do que há cinco anos". No entanto, no mesmo período, "os cinco homens mais ricos do planeta mais do que duplicaram as suas fortunas".
"1% da população mundial possui 43% de todos os ativos financeiros globais. A nível nacional, alguns governos aumentam a desigualdade ao concederem cortes massivos de impostos às empresas e aos 'ultra ricos', em detrimento dos investimentos na saúde, na educação e proteção social", lembrou.
Por fim, ele abordou a crise climática, defendendo que os países do G20 devem liderar um estímulo para os objetivos de desenvolvimento sustentável em US$ 500 bilhões por ano, e a Inteligência Artificial (IA).
Para Guterres, a IA "mudará praticamente tudo o que conhecemos, desde o trabalho à educação e comunicação, à cultura e à política", mas "sem uma abordagem global à sua gestão, a inteligência artificial "poderá levar a divisões generalizadas, uma grande divisão com duas internets, dois mercados, duas economias, com todos os países forçados a tomar partido e enormes consequências para todos".
Israel ataca discurso de Guterres na ONU: 'É uma farsa'
O embaixador israelense na ONU, Danny Danon, atacou o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, e definiu seu discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas como uma "farsa anual hipócrita".
“Quando o secretário-geral fala sobre a libertação dos nossos reféns, a Assembleia fica em silêncio, mas quando fala sobre o sofrimento em Gaza recebe aplausos estrondosos”, declarou o diplomata aos jornalistas na sede da ONU. (ANSA)
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