Pela primeira vez, peças tradicionais da Ilha do Marajó, no Pará, terão espaço na programação internacional da Semana de Moda de Milão, um dos eventos mais importantes do setor no mundo e que acontece na capital da Lombardia, na Itália, entre 17 e 23 de setembro.
A estilista e modelista Val Valadares representará o estado com peças que unem a ancestralidade e o contemporâneo, reforçando o estilo da coleção de moda autoral "Cápsula Marajó", lançada em abril, em Belém.
O desfile, que acontecerá no próximo dia 20, no Museo Della Scienza, um dos espaços da Semana de Milão, terá como referência a arte marajoara, estilo artístico da era pré-colombiana realizado em cerâmicas decoradas com motivos geométricos e figurativos que se desenvolveu na ilha paraense entre os séculos 5 e 8 d.C.
Referência que tem sua ligação com a Itália, por meio do padre jesuíta Giovanni Gallo (1927-2003), natural de Turim e que trocou o norte italiano pelo brasileiro. O religioso, que dedicou sua vida à valorização do povo da Ilha do Marajó, onde viveu por 30 anos, foi quem descobriu as cerâmicas com grafismos que, posteriormente, viraram inspiração para as bordadeiras locais.
"Ele italiano, eu brasileira, ele católico, eu evangélica. Mesmo assim, vi que temos muito em comum", conta Valadares, que quer homenagear Gallo durante o desfile na Itália, em entrevista à ANSA. "O objetivo desse movimento ['Cápsula Marajó'] é gerar renda para a população. O Gallo queria justamente isso, e o meu trabalho é em memória dele", complementa.
A coleção "Cápsula Marajó" apresenta peças variadas - como camisas, vestidos e acessórios - de diversas marcas autorais desenvolvidas no Polo de Moda Marajó, uma iniciativa conjunta do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas no Pará (Sebrae/PA), do Governo do Estado, das Prefeituras de Soure e Cachoeira do Arari, do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai).
O Polo tem como objetivo o desenvolvimento da produção de moda artesanal local, utilizando referências culturais da arte marajoara, ao mesmo tempo que fomenta nos produtores locais a visão empreendedora para a fabricação de produtos criativos.
"A ideia do projeto é falar de ancestralidade, de modo a olhar para o passado pensando no futuro", afirma o diretor-superintendente do Sebrae/PA, Rubens Magno, à ANSA.
Já Valadares revela que sempre teve "vontade de mostrar a moda marajoara mais sofisticada, de modo que o cliente possa sentir desejo em usar a ancestralidade, mas com elegância".
Para isso, ela antecipa que as peças apresentadas na Semana de Moda de Milão foram confeccionadas em tecidos de alta qualidade, como "o linho e algodão", e possuem modelagem contemporânea, "com poucos cortes" e acabamento sustentável, "com botões feitos com sobras de madeiras locais, como o pau-brasil".
Além disso, a cor de cada linha da marca Val Valadares representa uma ave regional: guará (vermelho), garça (branco), uirapuru (azul), marreca (cru), sururina (amarelo) e bico-chato (verde).
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