Começa oficialmente nesta sexta-feira (16) a campanha para as eleições municipais de 6 de outubro, que devem ecoar - pelo menos nas grandes cidades - a polarização entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-mandatário Jair Bolsonaro (PL), embora temas locais costumem ter maior peso para eleitores escolherem prefeito e vereadores.
Assim como os últimos pleitos no Brasil, a campanha se dará sob o fantasma das "fake news", o que fez o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) proibir deepfakes (alteração de vídeos com auxílio de inteligência artificial) e obrigar o uso de avisos para sinalizar propagandas feitas com IA.
"Para Lula, as eleições funcionarão como uma espécie de referendo sobre sua administração. Se as candidaturas apoiadas por ele tiverem sucesso, isso reforçará a ideia de que sua base está sólida e de que ele tem capacidade de mobilizar apoio não apenas em nível federal, mas também nas esferas locais, preparando o terreno para futuras eleições [em 2026]", diz à ANSA a doutora e mestre em ciência política Isabel Veloso, professora da FGV Direito Rio.
"Do outro lado, a capacidade de Bolsonaro de manter sua influência política mesmo estando inelegível será posta à prova. Se candidatos associados a ele ou ao bolsonarismo obtiverem sucesso, isso demonstrará que Bolsonaro ainda possui uma base robusta e mobilizada, capaz de influenciar as dinâmicas políticas mesmo sem candidatura direta", acrescenta.
Os olhares estarão voltados sobretudo a São Paulo, onde PT e PL não terão candidaturas próprias, mas farão um duelo por procuração através de Guilherme Boulos (Psol), pupilo de Lula, e do prefeito Ricardo Nunes (MDB), que tenta a reeleição com apoio do partido de Bolsonaro.
A disputa na maior metrópole do país ainda tem um postulante que tenta emular o ex-presidente: o influenciador de extrema direita Pablo Marçal, que serve como linha auxiliar de Nunes ao bombardear Boulos e a jovem deputada Tabata Amaral (PSB), também da base do governo Lula, com sua metralhadora de acusações disparatadas e ofensas.
"A sociedade está politicamente polarizada e calcificada. A gente tem duas grandes visões de mundo: bolsonarismo e lulopetismo, e é bem provável que essa polarização se reproduza, em maior ou menor grau, nas grandes capitais, como São Paulo", afirma o cientista político Rodrigo Prando, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
"No entanto, a depender de como as campanhas forem conduzidas, alguns candidatos poderão se apresentar como a tão sonhada terceira via e sair das órbitas petista e bolsonarista", acrescenta.
Esse é o objetivo de Tabata e também de seu namorado, João Campos (PSB), prefeito de Recife favoritíssimo à reeleição e que, segundo Veloso, pode usar a combinação de "juventude, perfil inovador e tradição política da família" para ganhar destaque no cenário nacional - ambos são do partido de Geraldo Alckmin, vice de Lula.
No Rio de Janeiro, as pesquisas apontam uma reeleição tranquila do prefeito Eduardo Paes (PSD), que é bem avaliado pela população e conta com o apoio de Lula, enquanto Bolsonaro deve ter trabalho para emplacar o candidato Alexandre Ramagem (PL), aliado próximo da família e pivô do escândalo de suposta espionagem ilegal contra opositores no governo do ex-presidente.
"Em 2020, o desempenho dos candidatos de Bolsonaro não foi espetacular como se imaginava. Se ele não conseguiu ser um cabo eleitoral tão forte quando tinha poder e visibilidade, tendo a crer que as dificuldades aumentam para ele", diz Prando.
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