O Instituto de Estudos de Política Internacional da Itália (Ispi) participou do T20 no Rio de Janeiro, com a experiência de quem já organizou o evento durante o G20 liderado por Roma, e introduziu o elemento da conferência intermediária, aquela que acaba de ser concluída na capital fluminense, com a participação de 121 think tanks.
O presidente do comitê científico do Ispi, Paolo Magri, comentou a iniciativa e as perspectivas da liderança brasileira no G20 em entrevista à ANSA, na qual convidou a Itália, que chefia o G7 neste ano, a olhar "com atenção para essa presidência, mas sobretudo para o Brasil".
A premissa do especialista é um retrato do contexto global com uma governança em crise, e o G20, que é um dos seus pilares, forçado a entrar em um perímetro de dificuldades inevitáveis.
"Precisamos ser muito realistas. Estão distantes os dias em que o G20 tomava o destino do mundo nas suas próprias mãos, pelo menos nas questões econômicas. Agora, entre alguns países do grupo, existe um diálogo muito trabalhoso, para usar um eufemismo", observa Magri.
E se neste momento existe "o risco para todo o G20 de ser mais palavra do que substância, isso é ainda mais forte para aqueles que, como os think tanks, lidam com ideias".
Do T20 no Rio de Janeiro, o presidente do Ispi sublinha o "valor" de o Brasil ter estreitado o leque de prioridades. "Em vez de se perder em milhares de propostas, os brasileiros concentraram-se em três temas: redução da pobreza, mudanças climáticas e reforma da governança global. É um trabalho valioso", afirma.
Segundo Magri, "é significativo o tema do combate à pobreza, para o qual, desde Lula, o Brasil tem sido um laboratório confiável". Ele também avalia como "positiva" a iniciativa "sobre a transição energética, porque o Brasil, que organiza a COP30 em 2025, pode dar continuidade a esse trabalho".
"Já a questão da reforma da governança global parece ser complexa e destinada a alcançar menos resultados. Porque se houver desacordo, ou mesmo guerra, entre alguns dos países do G20, será difícil chegar a um acordo para reescrever as regras", diz Magri.
O especialista sublinha a importância de a Itália, à frente do G7, "olhar com atenção para esta presidência, mas sobretudo para o Brasil, que representa um componente de diálogo e pragmático no mundo variado do chamado 'Sul Global', mais do que China, Índia ou Arábia Saudita, também por razões histórico-culturais, devido à presença de comunidades europeias, como a italiana".
E a poucos dias da chegada do presidente da Itália, Sergio Mattarella, ao Brasil, que celebra os 150 anos da imigração italiana, Magri destaca como o país pode ser uma conexão entre o Sul e o Norte globais, seguramente mais que as presidências anteriores do G20 (Arábia Saudita, Indonésia, Índia) e a próxima (África do Sul).
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, "artífice da única verdadeira política externa deste país nas últimas décadas, ainda é um líder confiável nas questões do G20 e tem uma forte projeção internacional, como na questão da desigualdade". "Mas ele é também o homem dos Brics e da cooperação com a África, o primeiro a ter lançado um programa Sul-Sul, certamente uma figura que tem a capacidade de unir", conclui Magri. (ANSA)
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